A festa em Honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António realiza-se anualmente sempre no primeiro Domingo do mês de Agosto, junto à bonita capela localizada no Monte do Viso, na freguesia de Guisande, concelho de Santa Maria da Feira.
Esta é a principal festa da freguesia, com uma componente religiosa e outra profana e a sua origem é bastante antiga. Não há documentos que atestem o seu início mas certamente está ligado à construção da capela, datada de 1869, portanto com quase século e meio.
Nossa Senhora da Boa Fortuna
Santo António
A Capela
A capela é de média dimensão, com corpo rectangular, com orientação nascente/poente, voltada à parte baixa da freguesia, dispondo assim de uma vista interessante que abrange os lugares da Casaldaça, Lama e Fornos e ainda as encostas nascente das freguesias de Fiães e Lourosa.
A capela ao longo dos tempos foi sofrendo obras de conservação e restauro, de que se destacam as ocorridas em 1969, à passagem do 1º centenário, com amplas obras interiores, incluindo restauro dos tectos, altares e exteriores, nomeadamente com o revestimento da fachada principal com azulejo incluindo as imagens de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António, oferta do devoto António Alves Santiago.
Em 2003 a capela passou por obras profundas de conservação, sendo substituída a estrutura da cobertura e realizado um novo coro, com uma cómoda escada de acesso interior. Antes a ligação ao coro era apenas por escada exterior, que de resto se mantém. Foi também removido o soalho em madeira e requalificado o pavimento original em largas lajes de granito da região.
A capela dispõe de uma sineta afixada num arco-sineiro edificado sobre o vértice da fachada principal. Este arco também foi realizado aquando das obras de 1969. Este mesmo arco foi alteado no ano de 2016 de modo a adequar o sistema de toque automático. O toque da sineta durante muitos anos era feito de forma manual, através de um cabo accionado na sacristia mas actualmente dispõe de um sistema electro-mecânico.
Também desde os anos 70 que a capela está dotada com relógio interior, cujo toque é transmitido via altifalante colocado próximo da sineta. Este relógio toca a cada quarto de hora e é ouvido em quase toda a freguesia, dependendo da direcção do vento.
Sobre a sineta, existe uma espécie de rivalidade ou disputa antigas com a freguesia de Lobão, já que os guisandenses reclaman que a capela de Santo Ovídeo em tempos pertenceu a Guisande (e de facto pelo menos uma parte a nascente do actual arraial está em território de Guisande) e por sua vez os de Lobão defendem-se argumentando que não e que a sineta existente na capela do Viso seria a que existia na capela de Santo Ovídeo e que foi roubada pelos de Guisande.
Obviamente que a parte que ao roubo da sineta diz respeito é pura mentira ou mera brincadeira, já que na sineta da capela do Viso, para quem quiser tirar dúvidas, existe uma gravação em baixo relevo, feita no próprio momento da fundição, com uma legenda que se refere à Senhora da Boa Fortuna.
A capela dispõe de três altares, o principal ao centro, com as imagens de Nossa Senhora da Boa Fortuna, Santo António do lado sul e S. Domingos do lado norte (embora não exista certeza quanto a esta identidade). O altar lateral do lado norte é dedicado a Nossa Senhora do Carmo e às Almas do Purgatório e do lado sul é dedicado à Senhora da Luz, cuja imagem supostamente se referia a Nossa Senhora da Boa Fortuna antes da aquisição da actual imagem.
Ainda em relação à imagem de Nossa Senhora da Boa Fortuna, foi adquirida recentemente uma imagem réplica a qual é utilizada na procissão já que a imagem original por diversas vezes sofreu acidentes à saída e entrada da capela, de que resultou a danificação da mão esquerda do Menino, bem como outros toques ligeiros.
Na parede lateral norte existe ainda um nicho com a figura de S. José e na parede sul um nicho com a figura do Menino Jesus de Praga, relativamente recentes.
A capela é toda ela harmoniosa, tanto interior como exteriormente. Noutros tempos era celebrada Missa todos os domingos. Desde há muitos anos, e já do tempo do Padre Francisco (falecido em 1998) celebra-se pelo menos uma vez por mês e por alturas do Natal, Reis e Ano Novo.
O arraial
A capela está envolvida pelo arraial do Monte do Viso onde se realiza a festividade de âmbito profano, o qual ao longo dos tempos tem sido requalificado. Ainda há trabalho a fazer mas as diversas juntas de freguesia, umas mais do que outras, têm ali dedicado alguma atenção no consecutivo melhoramento.
O actual arraial não tem nada a ver com o arraial original e deste praticamente só subsiste o velho e imponente sobreiro, um símbolo da freguesia, localizado a norte da capela e próximo ao edifício da Escola Primária do Viso. Pela existência da capela, da escola primária e da realização da festa, o Monte do Viso é motivo de fortes recordações para todas as gerações de guisandenses ao longo dos tempos.
O arraial dispõe de um belo coreto, com cobertura metálica, de construção dos anos 90, sob o qual foram construídas instalações sanitárias e espaço de apoio. Sob a sombra do imponente sobreiro, existe uma bela fonte de água corrente, captada em nascente no Monte de Mó, obra dos anos 2000. A zona do anfiteatro, pavimentada em calçada de pedrinha, data de 2004 e veio enriquecer toda a zona adjacente ao coreto, adequando-se aos bailaricos e outras actividades da paróquia.
Noutros tempos o arraial era um espaço algo selvagem, onde predominava um terreno irregular com várias árvores, nomeadamente acácias, de que ainda resistem duas árvores, austrálias e mimosas. As mimosas por altura do início da Primavera emprestavam ao local uma beleza particular com os cachos de flores amarelas e um doce aroma, delícia das abelhas.
Com os rigorosos ventos de inverno, as enormes austrálias e mimosas foram caindo aos poucos e com as obras de requalificação do arraial foram abatidas as sobreviventes.
Hoje toda a zona envolvente é uma digna sala de visitas da freguesia, e apesar de frequentemente estar botada ao desleixo pelas juntas, nomeadamente no aspecto de limpeza e manutenção dos jardins, é um local que orgulha os guisandenses. Durante o ano, para além da festa principal em Agosto, realizam-se ali várias actividades ligadas à paróquia ou ao movimento associativo, como a Semana Cultural, em Julho.
A Comissão de Festas
Para a organização destas festividades em Honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António, a cada ano é eleita uma Comissão de Festas composta por dois homens casados, sendo um deles o Juíz, e dois homens solteiros e ainda duas mulheres solteiras, as mordomas (Juíza e Procuradora).
Os elementos da Comissão de Festas por regra são eleitos uma única vez e quem faz a festa em solteiro não a faz em casado. A não ser por vontade própria. A Comissão da próxima festa é escolhida pela comissão cessante.
À Comissão cabe a responsabilidade de organizar todos os aspectos da festa, tanto a componente religiosa, em coordenação com o pároco local, como da profana ou de entretenimento.
Uma vez tomada a posse, o que acontece após a nomeação e o encerramento das contas da festa terminada, normalmente pelo início de Setembro, a nova Comissão inicia logo os preparativos. Por tradição realiza o peditório pela freguesia por início de Novembro, designado de peditório da Esmola da Eira. Na origem era uma oferta em cereal, milho ou feijão, e servia de adiantamento ou preparo para as despesas. Hoje em dia o pagamento é feito em dinheiro e é realizado em simultâneo com o peditório principal, evitando-se assim uma segunda volta.
De todo o modo, o peditório acaba por ser mais uma tradição e uma espécie de apresentação da equipa à freguesia, pois na realidade os guisandenses têm a tradição de fazer o pagamento da oferta durante os dias da festa. É nesta altura que o grosso da receita é recebido.
Durante o resto do ano até à data da festa, há muito trabalho e canseira a requerer coordenação e acção, como a contratação dos artistas e grupos, a contratação dos aspectos logísticos, como o palco, som, luz e ornamentação, foguetes, etç, bem como a angariação de receitas suplementares, como a publicidade/patrocínios, venda de rifas, etç.
As mordomas têm a função de organizar os aspectos relacionados com os andores, flores, passadeira do percurso, etç. Noutros tempos tinham a função de organizar a preparação dos enfeites e ornamentação mas desde há vários anos que essa é uma parte realizada por empresa contratada.
As mordomas principais (Juíza e Procuradora) angariam a receita junto das mordomas secundárias, raparigas solteiras e adolescentes, cuja lista vai sendo actualizada de ano para ano. Estas mordomas secundárias podem ser nomeadas por vários anos. A sua responsabilidade, uma vez que deixou de haver a tarefa de se fabricar artesanalmente os enfeites, em que teriam que ajudar, resume-se actualmente à contribuição de uma verba em dinheiro para além do dever de ajudar na preparação da passadeira do percurso da procissão.
Aspectos da organização e outras características
Noutros tempos a festa realizava-se apenas ao Sábado e Domingo. Posteriormente, já pelos anos 70, alargou-se à Segunda-Feira e mais recentemente antecipou-se à Sexta-Feira.
Por tradição está sempre presente uma Banda de Música, que ajuda no acompanhamento da Missa e actua durante a tarde de Domingo, até ao sol-pôr, incluindo o acompanhamento da procissão solene.
Noutros tempos participavam regularmente duas bandas e eram a principal atracção da festa. Essa tradição foi reactivada no ano de 2004 e 2005 mas actualmente, por dificuldades financeiras, conta-se apenas com uma banda.
O Domingo à noite regra geral é reservado ao folclore, com ranchos da região e de outras terras, nomeadamente da região do Alto Minho que aqui são muito apreciados pela vivacidade dos trajes e das danças.
A noite de Segunda-Feira é reservada à atracção principal e a uma sessão sempre esperada de fogo de artifício. A festa orgulha-se de ter quase sempre um artista de renome nacional no seu cartaz.
Por tradição está sempre presente uma Banda de Música, que ajuda no acompanhamento da Missa e actua durante a tarde de Domingo, até ao sol-pôr, incluindo o acompanhamento da procissão solene.
Noutros tempos participavam regularmente duas bandas e eram a principal atracção da festa. Essa tradição foi reactivada no ano de 2004 e 2005 mas actualmente, por dificuldades financeiras, conta-se apenas com uma banda.
O Domingo à noite regra geral é reservado ao folclore, com ranchos da região e de outras terras, nomeadamente da região do Alto Minho que aqui são muito apreciados pela vivacidade dos trajes e das danças.
A noite de Segunda-Feira é reservada à atracção principal e a uma sessão sempre esperada de fogo de artifício. A festa orgulha-se de ter quase sempre um artista de renome nacional no seu cartaz.
A procissão solene
A procissão solene, realizada no Domingo à tarde, normalmente pelas 18 horas, é um dos momentos altos da festa religiosa, habitualmente com uma dúzia de andores e vários figurantes. Na última edição, 2010, integraram-se 14 andores.
Pela sua beleza e religiosidade, a procissão atrai muitos forasteiros, quer para ver os belos andores quer para ver a passadeira de flores que com arte e dedicação é preparada no início da tarde, envolvendo muitas pessoas da freguesia, devidamente orientadas pelas mordomas, que de véspera tratam de angariar flores, pétalas, ramos, relvas, serraduras, etç, para depois prepararam a composição do tapete.
A procissão durante muitos anos fazia o percurso de ida e volta até ao lugar das Quintães, contornado uma bela cruz enfeitada com flores, mas nos últimos dois anos, devido ao alargamento da Rua das Barreiradas, o percurso foi ligeiramente alterado, saíndo da Capela e percorrendo pelo nascente o lugar de Cimo de Vila e descendo a Rua das Barreiradas, retomando depois o antigo percurso da volta, pela Rua das Quintães e subida do Monte pela Rua Nossa Senhora da Boa Fortuna.
Pela sua beleza e religiosidade, a procissão atrai muitos forasteiros, quer para ver os belos andores quer para ver a passadeira de flores que com arte e dedicação é preparada no início da tarde, envolvendo muitas pessoas da freguesia, devidamente orientadas pelas mordomas, que de véspera tratam de angariar flores, pétalas, ramos, relvas, serraduras, etç, para depois prepararam a composição do tapete.
A procissão durante muitos anos fazia o percurso de ida e volta até ao lugar das Quintães, contornado uma bela cruz enfeitada com flores, mas nos últimos dois anos, devido ao alargamento da Rua das Barreiradas, o percurso foi ligeiramente alterado, saíndo da Capela e percorrendo pelo nascente o lugar de Cimo de Vila e descendo a Rua das Barreiradas, retomando depois o antigo percurso da volta, pela Rua das Quintães e subida do Monte pela Rua Nossa Senhora da Boa Fortuna.
Resumo
A Festa do Viso, como popularmente é conhecida em Guisande e nas redondezas, é uma das fortes tradições da freguesia e é motivo de orgulho de todos os locais.
A festa em si é um momento de expressão religiosa e também de alegria e convívio entre os guisandenses e familiares, sobretudo os que emigrados ou deslocados regressam à terra.
Para os emigrantes é um momento único de ligação à aldeia. As famílias juntam-se à mesa e ao forno vai o cabrito, carneiro ou borrego. Nas mesas abundantes, a par do tradicional assado, há doces e fruta, de modo especial o melão, outrora um símbolo da festa.
A Festa do Viso representa para a Comissão de Festas uma responsabilidade e canseira que dura todo um ano, bem como também exige um esforço de colaboração de toda a freguesia mas no final, feita a festa e suada a testa, é um motivo que a todos orgulha, com um sentimento partilhado de dever cumprido e tradição respeitada em nome da terra e de todos os antigos que sempre tiveram uma dedicação pela Festa do Viso e de modo especial pela Mãe carinhosa na invocação de Senhora da Boa Fortuna, bem como de Santo António, protector das causas e coisas perdidas.
A festa em si é um momento de expressão religiosa e também de alegria e convívio entre os guisandenses e familiares, sobretudo os que emigrados ou deslocados regressam à terra.
Para os emigrantes é um momento único de ligação à aldeia. As famílias juntam-se à mesa e ao forno vai o cabrito, carneiro ou borrego. Nas mesas abundantes, a par do tradicional assado, há doces e fruta, de modo especial o melão, outrora um símbolo da festa.
A Festa do Viso representa para a Comissão de Festas uma responsabilidade e canseira que dura todo um ano, bem como também exige um esforço de colaboração de toda a freguesia mas no final, feita a festa e suada a testa, é um motivo que a todos orgulha, com um sentimento partilhado de dever cumprido e tradição respeitada em nome da terra e de todos os antigos que sempre tiveram uma dedicação pela Festa do Viso e de modo especial pela Mãe carinhosa na invocação de Senhora da Boa Fortuna, bem como de Santo António, protector das causas e coisas perdidas.
- Américo Almeida