Invocado em Portugal contra a peste e epidemias, fome e guerras, mereceu o cognome de Defensor da Igreja pelos feitos realizados em nome da fé e é um dos mártires mais conhecidos da antiguidade. São Sebastião, descende de uma família nobre, terá nascido em Narbona, sul de França, em meados do século III, mas os seus pais eram, segundo a maior parte dos investigadores, originários de Milão, cidade onde terá crescido até se mudar para Roma. Há, no entanto, quem admita que o pai era natural de Narbona e defenda que ele tenha nascido em Milão. Historicamente, são poucos os factos sobre a sua vida que estão demonstrados.
Exceptuando o seu martírio, em Roma, e a sepultura nas catacumbas da Via Ápia, quase todos os relatos são questionados com, algum cepticismo, por muitos historiadores. Educado segundo os princípios cristãos, desde muito pequeno demonstrou ser um fervoroso religioso. Foi, aliás, em nome da religião que enveredou pela carreira militar com o único propósito de, em tempo de intensas perseguições aos cristãos, auxiliar confessores e mártires a, perante ameaças de morte e tortura, não renunciarem a Jesus Cristo.
As suas virtuosas qualidades, designadamente, a figura imponente, a prudência, a bondade e bravura, depressa o tornaram respeitado e admirado entre a nobreza de Roma, tendo chegado a ser um dos soldados preferidos do imperador Diocleciano, que, desconhecendo a religião que o Santo professava, o nomeou capitão general da Guarda Pretoriana.
Um dos seus mais célebres e relatados feitos ocorreu quando os irmãos Marcos e Marcelino, encarcerados e torturados, por se afirmarem crentes em Jesus, quase renegaram a sua fé, depois da sua família ter pedido a Cromácio, governador de Roma, que prorrogasse a sentença de morte por trinta dias.
Naquele período, São Sebastião visitou os dois mártires romanos, que, então, começavam já a fraquejar, sobretudo, perante as súplicas do seu pai, Tarquilino, da sua mãe, Márcia e das mulheres e filhos, que, todos, ainda pagãos, pediam que renunciassem ao Cristianismo. Animou-os e persuadiu-os a continuarem a confiar na palavra de Deus. Conta-se que não só conseguiu que Marcos e Marcelino se mantivessem fiéis à sua fé, como converteu sessenta e quatro presos, o primeiro escrivão do tribunal, o carcereiro e toda a família dos dois irmãos. Conversões que, entretanto, foram acompanhadas de vários milagres.
Os relatos de Santo Ambrósio referem que, enquanto o Defensor da Igreja proferia palavras de alento aos dois prisioneiros, uma resplandecente luz invadiu a sala e Jesus Cristo fez ali uma aparição, rodeado de sete anjos, oferecendo a São Sebastião o ósculo da paz e asseverando que estaria sempre com ele. A restituição da fala a Zoé (que perdera a voz seis anos antes) é outro dos milagres atribuídos ao mártir, que também conseguiu converter Cromácio, governador de Roma, e toda a sua família, ao Cristianismo. Posteriormente, muitos dos escravos de Cromácio receberam o baptismo e foram postos em liberdade.
Depois de renunciar ao cargo, o governador de Roma foi viver para o campo e abriu a sua casa a todos os cristãos perseguidos pelo imperador Diocleciano. São Sebastião foi igualmente aconselhado a abandonar Roma, mas ali permaneceu para continuar a alentar e socorrer os seguidores de Jesus que se encontravam encarcerados.
Decorria o ano de duzentos e oitenta e seis e a perseguição a todos os que se haviam convertido ao Cristianismo intensificava-se. Zoé foi a primeira a morrer martirizada, pendurada pelos calcanhares, sobre uma fogueira, asfixiada pelo fumo. Tarquilino, pai
de Marco e Marcelino viriam a ser pregados pelos pés a um poste e, após várias horas de tortura, crivados de flechas. A fé de São Sebastião, que ansiava já a sua própria morte, robustecia-se a cada martírio. Viria a ser denunciado a Diocleciano por Fabiano, então promovido a governador de Roma. Surpreendido por saber que era São Sebastião quem convertia os pagãos e fortificava a fé dos cristãos, o imperador acusou-o de ingratidão e de atiçar a cólera dos deuses ao pregar o Cristianismo e pôr em causa a restauração do império romano.
Refere o «Passio Saneti Sebastiania», relato do martírio (composição literária redigida um século depois dos acontecimentos), que o Santo terá dito a Diocleciano que havia prestado um serviço ao Império ao adorar o “único verdadeiro Deus” e ao converter outros fiéis que “orassem incessantemente ao Soberano Árbitro e Criador do Universo” pela salvação do imperador e do Estado. Palavras que logo o condenaram a, amarrado a um tronco de árvore, sucumbir às mãos dos arqueiros da Mauritânia, que atravessaram de flechas, até o darem por morto. Mas, terá sido encontrado por Santa Irene ainda com vida. Santa Irene, viúva de um outro mártir, Santo Cástulo, levou-o para sua casa e dele cuidou até que se curasse de todos os ferimentos.
Depois de restabelecido, São Sebastião recusou fugir e voltou a apresentar-se perante Diocleciano, para reafirmar a sua fé e censurar as injustiças e crueldades praticadas contra os seguidores da palavra de Jesus Cristo. “É possível, Senhor que vos eternamente iludir pelas imposturas e calúnias que se andam incessantemente inventando contra os cristãos? Sabei que os fiéis estão longe de ser inimigos do Estado, que é somente às suas orações que vós sois devedor de todas as prosperidades.” Incrédulo e enfurecido por o homem que julgava morto, o imperador condenou São Sebastião a duplo martírio: ordenou que fosse chicoteado até , devendo ser, depois, o seu corpo atirado para a Cloaca Máxima, o lugar mais imundo de Roma. O Santo apareceu, entretanto em sonhos a uma mulher chamada Luciana, que, mais tarde, viria também a ser canonizada, a quem pediu que recuperasse o seu cadáver e o sepultasse nas catacumbas da Via Ápia, muito perto do local onde antes haviam estado enterrados os corpos dos apóstolos São Pedro e São Paulo e onde se situa a Basílica de São Sebastião Extramuros.
A data do seu falecimento, vinte de Janeiro de Janeiro, é dada como correcta, mas, tal como outros episódios da sua vida, que a crítica histórica considera lendários, também o ano da sua morte não é consensual: muitos atribuem o martírio ao ano de duzentos e oitenta e oito, enquanto outros julgam-no mais tarde, aproximando-se do ano trezentos.
Certo é que no século VII, em seiscentos e oitenta, as suas relíquias foram solenemente transportadas para uma basílica mandada construir por Constantino. Nesta época, uma terrível peste assolava Roma, conduzindo à morte várias pessoas.
Diz a convicção popular que a epidemia desapareceu a partir do momento em que foram trasladados os restos mortais do Santo Mártir, que passou, então, a ser venerado como o padroeiro contra a peste, a fome e a guerra. Também em Milão, em mil quinhentos e setenta e cinco, e em Lisboa, em mil quinhentos e noventa e nove, ocorreram epidemias que, alegadamente, foram exterminadas após várias procissões e outros actos públicos, em que se suplicava a intercessão espiritual de São Sebastião.
É igualmente prática muito antiga da Igreja invocar a protecção divina contra os inimigos da fé, por intermédio deste Santo, normalmente, no entanto, a par de São Jorge e de São Maurício. São Sebastião é ainda considerado o terceiro padroeiro de Roma, juntamente com Santos Apóstolos Paulo e Pedro. A arte dos séculos XV e XVI também o veio a imortalizar. Vários pintores renascentistas, como Bernini, Botticelli, Mantegna, Perugino e El Greco, universalizaram o seu duplo martírio, fazendo com que a imagem de São Sebastião, com o corpo desnudado e coberto de flechas seja ainda hoje, uma das mais reproduzidas pela arte sacra. Cedo, de resto, a devoção a São Sebastião se espalhou por toda a Europa, tendo também chegado a África, onde Santo Agostinho terá proferido vários sermões em honra do mártir.
Em Portugal, a sua popularidade pode ser avaliada pelas largas dezenas de povoações de que é padroeiro; pelas várias igrejas, capelas e ermidas que o têm por orago; e pelas, pelo menos, onze localidades a que dá o nome. Só na diocese de Braga é padroeiro de quinze confrarias. Foi sobretudo no século XVI que o culto a este Santo se intensificou no nosso País. Dom Sebastião foi, aliás, baptizado com o seu nome, em mil quinhentos e cinquenta e quatro, por ter nascido em vinte de Janeiro, dia em que assinala a morte do mártir, “a quem o povo português era muito obrigado por devoção por Deus haver levantado a cruel e frequente peste destes Reinos, com a vinda do seu braço.”
O braço de São Sebastião, conforme refere ainda a Crónica do Padre Amador Rebelo, foi furtado em Itália e depois oferecido, em mil quinhentos e vinte e sete, por Carlos V, imperador da Alemanha, a D. João II de Portugal, que mandou depositar a relíquia no mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Também em mil quinhentos e setenta e três, o Papa Gregório XII enviou, a pedido de D. Sebastião, duas das setas que tinham servido o martírio do Santo. Aliás, foi no reinado do monarca “O Desejado” que, em
várias terras do País, se passou a celebrar o dia de São Sebastião.
No Brasil é padroeiro de cento e quarenta e quatro paróquias. Conta-se que em mil quinhentos e sessenta e cinco, no dia da sua memória litúrgica, foi visto a lutar ao lado dos portugueses contra os franceses e os tamoios (tribo de índios tupis), que, na altura, ocupavam o Rio de Janeiro, cujo nome canónico é hoje São Sebastião do Rio de Janeiro, cidade de que é igualmente padroeiro.
[Fonte: jf-sspedreira.pt/]
Oração:
“Concedei-nos, Senhor, o espírito de fortaleza, para que, a exemplo de vosso mártir São Sebastião, aprendamos a obedecer antes a Vós que aos homens. Por Nosso Senhor”.
PADROEIRO DAS SEGUINTES FREGUESIAS: (entre parênteses os Concelhos)
Mouriscas (Abrantes);
Dornelas, Sequeiros e Souto de Aguiar da Beira (Aguiar da Beira);
Vimeiro (Alcobaça);
Olhalvo (Alenquer);
Mesquitela (Almeida);
Gomes Aires (Almodôvar);
São Sebastião (Angra do Heroísmo);
Cepos e Secarias (Arganil);
Santa Justa (Arraiolos);
Benavila (Avis);
Aveiras de Cima (Azambuja);
Peral (Cadaval);
Câmara de Lobos (Câmara de Lobos);
Vile (Caminha);
Amedo e Seixo de Ansiães (Carrazeda de Ansiães);
Almaceda (Castelo Branco);
Cadafaz e Ratoeira (Celorico da Beira);
São Paulo de Frades (Coimbra);
Coutada e Ferro (Covilhã);
Figueira dos Cavaleiros (Ferreira do Alentejo);
Maceira (Fornos de Algodres);
Barroca, Capinha e Escarigo (Fundão);
Colmeal (Góis);
Cativelos (Gouveia);
Meios, Ribeira dos Carinhos, Vila Cortes do Mondego (Guarda);
São Sebastião (Guimarães);
Alcafozes (Idanha – a – Nova);
São Sebastião (Lagos);
Calheta de Nesquim (Lajes do Pico);
Bigorne e Vila Nova de Souto D’El Rei (Lamego);
Regueira de Pontes (Leiria);
São Sebastião da Pedreira (Lisboa);
Boliqueime (Loulé);
Marteleira (Lourinhã);
Bagueixe, Chacim e Vilarinho do Monte (Macedo de Cavaleiros);
Caniçal (Machico);
São Sebastião dos Carros (Mértola);
Póvoa (Miranda do Douro);
Cabanelas, Cobro, Romeu e Vale de Salgueiro (Mirandela);
Valverde (Mogadouro);
Baldos (Moimenta da Beira);
Meãs do Campo (Montemor – o – Velho);
Carva (Murça);
Valado dos Frades (Nazaré);
Sobral da Lagoa (Óbidos);
Vilar Barroco (Oleiros);
Quelfes (Olhão);
São Sebastião da Feira e Vila Pouca da Beira (Oliveira do Hospital);
Paradela (Penacova);
Castelões (Penafiel);
Castainço e Granja (Penedono);
Cumieira e Espinhal (Penela);
Serra D’El Rei (Peniche);
Atalaia, Bogalhal, Souro Pires e Vale de Madeira (Pinhel);
Ginetes e São Sebastião (Ponta Delgada);
Carreiras (Portalegre);
Pedreiras e Serro Ventoso (Porto de Mós);
Rendo (Sabugal);
Fornelos (Santa Marta de Penaguião);
Carragozela (Seia);
Penso (Sernancelhe);
Vale de Vargo (Serpa);
Cernache do Bonjardim (Sertã);
São Sebastião (Setúbal);
Sines (Sines);
Alfarelos e Degracias (Soure);
Meda de Mouros (Tábua);
Pereiro (Tabuaço);
Granja Nova e Vila Chã da Beira (Tarouca);
Horta da Vilariça e Souto da Velha (Torre de Moncorvo);
Zibreira (Torres Novas);
Chafé e Darque (Viana do Castelo);
Budens (Vila do Bispo);
Candoso (Vila Flor);
Queiriga, Touro e Vila Nova de Paiva (Vila Nova de Paiva);
Sarnadas de Ródão (Vila Velha de Ródão);
Algoso (Vimioso);
Edral (Vinhais)