A forma ou a grafia como se deve escrever o topónimo Guisande, é uma questão que, quando posta à discussão, gera sempre alguma controvérsia e, naturalmente, pontos de vista diferenciados, mas quase sempre sem grande suporte ou rigor histórico e linguístico.
Neste contexto, coloquei, há tempos, a questão no sítio Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, um espaço onde pessoas competentes e especialistas, respondem às dúvidas que vão sendo colocadas pelos visitantes e leitores, desde as mais comuns até às mais específicas.
Pergunta:A minha aldeia é Guisande, do concelho de Santa Maria da Feira.
Em Portugal, para além desta, existe ainda a freguesia de Guisande, no concelho de Braga.Por aqui ainda existe alguma confusão e até alguma polémica, que por vezes geram discussões e que decorrem da grafia. Será "Guisande", com S, ou "Guizande", com Z? Recordo que de há trinta anos para trás era vulgar a grafia com o Z, inclusive era usada pelo velho pároco local. Sei que a mudança para a grafia com o S ocorreu pela ideia incutida e ensinada por algumas professoras do ensino primário local. Pessoalmente entendo que se devia manter a grafia com o Z. Penso que não há nenhum motivo para a prática do contrário. Ainda hoje há exemplos toponímicos onde se preserva a grafia com o Z. Atente-se nos exemplos: Carrazeda de Ansiães; Oliveira de Azeméis; Azeitão. Para além destes, e outros haverá, existem múltiplos exemplos, como Azevedo, Gazela, Azeite, Azo, Azimute, Azelha, Azar e por aí fora.Ora se a ideia subjacente à mudança ensinada pelas professoras quanto à grafia do topónimo Guisande era de que o S entre vogais vale Z, então o porquê da existência de todos os exemplos que apontei? Pergunto, pois, qual a norma e, no caso concreto, qual a grafia correcta para Guisande?Grato pelos esclarecimentos. Américo Almeida
Resposta:
É por razões históricas que se deve escrever Guisande com s. Em documentos medievais, este topónimo aparece grafado Guisandi, nos séculos XII e XII, e Guisande, a partir do século XV. Os topónimos com z referidos na pergunta têm essa letra por razões também etimológicas, uma vez que os grafemas s e z tinham, entre vogais, pronúncias diferentes. Foi depois do século XVII que os sons sibilantes associados a essas letras se confundiram, acarretando naturalmente muitas confusões na escrita. Com a reforma ortográfica do 1911, procurou-se, em grande parte, reconstituir a distribuição medieval dos grafemas das sibilantes nos topónimos portugueses. Daí muitos nomes com s, nos séculos XVIII e XIX, terem passado a escrever-se com z e vice-versa.Guisande é nome que ocorre em Portugal (a sul e a norte do Douro), na Galiza e, sob a forma Guisando, na província castelhana de Ávila. Apesar de alguma controvérsia, Guisande deve estar relacionado com nome próprio Uisando, atestável desde meados do século X em Portugal.
Fonte: José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Confluência e Livros Horizonte, 2003.
Carlos Rocha :: 19/09/2008
Cá está! Mesmo sendo contra a opinião que eu tinha em relação ao assunto, dou como válida a resposta. De todo o modo, talvez pela influência da escola, utilizo desde há muito a grafia com S.
Apesar de tudo, apesar da maioria actualmente escrever com S, não seria descabido que a Junta e a Assembleia de Freguesia, com base em pareceres que mandassem recolher, tomassem uma posição sobre o assunto, oficializando assim a versão.