O Carnaval é um festival popular relacionado às raízes do cristianismo ocidental. Ocorre antes da estação litúrgica da Quaresma. Os principais eventos ocorrem tipicamente durante Fevereiro ou início de março, durante o período historicamente conhecido como Tempo da Septuagésima (ou pré-quaresma). O Carnaval normalmente envolve uma festa pública e ou desfile combinando alguns elementos circenses, máscaras e uma festa de rua pública. As pessoas usam trajes durante muitas dessas celebrações, permitindo-lhes perder a sua individualidade quotidiana e experimentar um sentido elevado de unidade social.
O consumo excessivo de álcool, de carne e outros alimentos proscritos durante a Quaresma é extremamente comum. Outras características comuns do carnaval incluem batalhas simuladas, como lutas de alimentos, sátira social e zombaria das autoridades e uma inversão geral das regras e normas do dia-a-dia.[fonte: Wikipédia]
Esta introdução ao sentido do Carnaval será a mais comummente aceite, sendo que nos tempos modernos ela generalizou-se e transformou-se, tornando-se mais num evento folclórico e sobretudo dirigido às massas e indústria do turismo, como é o caso do Carnaval do Rio de Janeiro no Brasil. Mesmo em Portugal, sendo certo que há manifestações de um Carnaval ainda muito tradicional, sobretudo em pequenas aldeias do interior, e destas as principais em Trás-os-Montes e Beiras, mas no litoral os eventos carnavalescos tornaram-se também eles meras organizações para turista ver, resultando já não em manifestações genuinamente populares e espontâneas mas principalmente com estruturas organizativas fortes e subsidiadas. Em resumo, comercializadas.
Em todo o caso, o Carnaval, mesmo o que se vive em Portugal, seja o mais comercial ao mais popular, é um evento muito apreciado pela generalidade do nosso povo.
O Carnaval em Guisande:
Em Guisande, as manifestações ligadas ao Carnaval nunca foram marcantes nem consequentes e regulares no tempo a ponto de estabelecerem uma tradição com raízes. De resto como nas demais freguesias vizinhas. Manifestações mais ou menos organizadas e com regularidade são raras e sobretudo na freguesia vizinha de Caldas de S. Jorge onde o contexto turístico das Termas em muito ajudou a essa continuidade.
Apesar disso, são conhecidas e ainda lembradas pelos mais velhos algumas carnavaladas episódicas e com preponderância num ou noutro lugar da freguesia e por vezes pelo impulso de uma ou outra figura mais característica desses lugares.
Por exemplo, no lugar do Viso, recordo que nos meus tempos de criança e adolescente, por isso pelos idos anos de 1960 e 1970, o Carnaval marcava sempre presença e sempre com a intervenção da criançada. grosso modo, o grupo tratava com tempo de ir ao mato colher um carvalho de porte adequado, que era arrastado para a borda do Monte do Viso, próximo da escola e ali era fixado ao alto. Depois era um arrastar contínuo de lenha do mato e tudo o que pudesse arder, incluindo velhos pneus e trapos, de modo a amontoar à volta do carvalho, como se de uma árvore de Natal se tratasse. No cimo da árvore pendurava-se um grande espantalho.
Ao princípio da noite, quase sempre após o jantar, era o momento esperado, o acender do fogueirão o qual pela sua dimensão seria visto em toda a parte baixa da freguesia. A imagem acima de algum modo ilustra o que de semelhante então acontecia no lugar do Viso. Claro, escusado será dizer, que quando o dia de Carnaval calhasse num dia de chuva era um cabo dos trabalhos para fazer arder a árvore e aí recorria-se a petróleo e a lenha e moliço secos para ajudar a engrenar.
Nessa altura do acender da fogueira os mais velhos também vinham assistir. Noutros lugares da freguesia, como Estôse e Casaldaça, também era comum o acender de fogueiras ou borralheiras. Paralelamente, as habituais brincadeiras de crianças com o uso de bisnagas de água, algumas mais sofisticadas na forma de peixe e pistola e que por esse altura se compravam como brinquedos, na Quitanda das Quintães. Também, para as meninas, o atirar do pó-de-arroz e outras matreirices. Era sem dúvida um dia de brincadeiras alegres e num tempo em que as crianças brincavam na rua, muito ou totalmente ao contrário do que sucede nos tempos modernos.
Era, pois, um simbolismo genuíno, mesmo que então pouco compreendido, do queimar do tempo velho e a preparação para o tempo novo ao qual se transitava pela carestia da Quaresma, a qual por esses tempos era vivida com algum rigor, no que respeita ao respeito pelo jejum e abstinência bem como da participação nos serviços religiosos, como a reza do Terço e a Semana de Pregações.