27 de outubro de 2017

Recados...



As recentes eleições autárquicas no nosso concelho, para além da normal normalidade, foram contudo marcadas pelos protestos na freguesia do Vale, que não se traduzindo num boicote total como certamente pretenderiam os mentores, saldou-se, todavia, por uma expressiva abstenção. Por conseguinte, o recado foi dado e bem dado e a "carta terá chegado a Garcia". Mas creio que mais do reclamar a questão da independência neste contexto de uma união de freguesias com Vila Maior e Canedo, pretenderam mostrar os valenses a insatisfação por um quase absoluto desprezo no que se refere à realização de obras, melhoramentos e manutenção de aspectos básicos como as limpezas de ruas e tapamento de buracos.

De facto, quem conhece o Vale e por lá passa com regularidade e percorre as suas ruas e lugares, percebe facilmente que durante o mandato que passou num contexto de união de freguesias, efectivamente foi uma terra abandonada, até mesmo desprezada. Atrevo-me mesmo a dizer que comparativamente a Guisande foi ainda mais notória a falta de intervenções já que por parte de Guisande, para mal dos seus pecados, pairou sempre no mandato o ónus da pesada dívida que transmitiu à União, o que, tanto quanto se saiba, não aconteceu com o Vale.

Por sua vez, para além deste recado do Vale, o recado deixado por Guisande não deixa de ser significativo e temos assim a particularidade de uma União de Freguesias em que um partido ganhou com maioria absoluta mas perde, por maioria, numa das freguesias, precisamente naquela que terá sido porventura a mais penalizada com a escassez de meios financeiros com que se debateu a Junta ao longo do curto mandato.
É claro que alguns dos responsáveis partidários assobiam para o ar e passado o relativo interesse que demonstram pelas pessoas e pelas freguesias em período de pré-campanha, obtidos os resultados voltam a ignorar as mesmas pessoas e as mesmas freguesias, o que de resto não surpreende já que para alguns o interesse que aparentam mostrar pelas mesmas é só na justa medida de verem as suas necessidades de cargos garantidas. 

Em resumo, o problema do Vale é o problema de Guisande, ou seja, de freguesias consideradas pequenas integradas em uniões de freguesias desequilibradas e mal amanhadas e que muito longe de resolverem problemas, incluindo a questão dos enclaves de Parada e Arilhe, vieram ampliar as dificuldades numa lógica de submissão às freguesias cabeças-de-cartaz (Canedo e Lobão).

Oxalá, pois, que o actual Governo tenha a coragem para desfazer ou pelo menos criar condições de alteração e ajustar diferenças e desequilíbrios em muitas das uniões de freguesias produzidas a martelo pelo anterior Governo PSD, gizadas por um mau político e que em rigor resultou numa reforma administrativa contra a vontade das pessoas  e das suas freguesias, tudo isso num pressuposto falacioso de poupança e optimização de recursos, o que ainda está por provar.

Até lá, iniciados agora os novos mandatos, vamos ver se os recados do Vale e Guisande terão algum efeito prático ou se, pelo contrário, irá sobrar algum revanchismo ou mau perder, o que, convenhamos, seria um muito mau princípio. Vamos, pois, acreditar que a normalidade na consideração, respeito e proximidade entre eleitos e eleitores seja a norma. Pessoalmente acredito que sim, mas, como diz o outro, "vou andar por aí".

(foto: fonte: Jornal N)