11 de junho de 2018

Vende-se...ou dá-se


Eu sei que há por aí muitos entusiastas do ciclismo que apesar dos seus 50, 60 ou 70 anos, ainda pedalam como se demonstrassem interesse e ambição a integrar o pelotão de uma Volta a Portugal, quiçá a Volta à França. Levam, pois, a coisa à séria e pedalam como desalmados e em grupos mais ou menos extensos, percorrem as estradas da zona e mais além, quase não olhando para o lado, não dando atenção à paisagem. Quilómetros, tempos, médias, alimentos energéticos, etc, são preocupações.

Pela parte que me toca, também entusiasta da bicicleta mas talvez mais por imperativos de obrigar o corpo a algum exercício físico do que por feitos desportivos, também vou pedalando, mas de forma solitária e por montes e vales, por terras de Cambra, Arouca e Paiva, mas remetido às limitação da idade e do peso e sem falsos objectivos de pedalar ao lado dos ases do ciclismo, mesmo dos amadores. Assim sendo, guardo tempo para também olhar para o lado e apreciar mesmo a paisagem que para as bandas da serra têm sempre o condão de alegrar os olhos.

Ora nessas solitárias corridas e nessa disponibilidade para olhar para o lado, tenho verificado que desde que está na moda o assunto das limpezas florestais, têm aumentado os avisos de VENDE-SE, afixados nas bordas de muitos prédios de mato e pinhal. E percebe-se as razões, pois a maior parte deles, localizados em locais que não permitem qualquer operação de construção urbana, limitam-se ao rendimento florestal. Só que este, face à obrigatoriedade de limpeza, pelo menos uma vez ao ano, a receita da venda de árvores (com excesso de oferta no mercado) já pouco ou nada compensa as inflaccionadas despesas da limpeza, ou então as pesadas coimas previstas. Todavia, pelas mesmas razões que esses matos e pinhais estão a ser colocados à venda, os eventuais interessados e compradores fogem dos mesmos como o diabo da cruz. Creio até, nalguns casos, que se fossem dados e arregaçados seriam caros e recusados como presentes envenenados pois só seriam motivo de despesa e nenhum ou escasso rendimento. Ora, hoje em dia ninguém gosta de trabalhar para aquecer. 

Creio que uma boa alternativa, se possível, era doar essas propriedades ao Estado e ser este a tomar conta do encargo da sua limpeza a troco de....nada. Só que o Estado, habitualmente ineficaz em muitas situações, nestes casos do "venha a nós" é uma máquina oleada e assim em caso de cobrança coerciva de eventuais coimas por não cumprimento das limpezas, colocará à cabeça de bens executados certamente os mais apetecíveis, como veículos, ordenados e mesmo habitação.

Neste contexto, para além de outras conclusões, como o facto de que os matos e pinhais depois de limpos em Março, Abril e Maio, já têm vegetação da altura de vacas adultas, percebe-se que a desbastação de algumas árvores e limpeza marginal permitiram condições de espaço e luz para o rápido desenvolvimento de nova vegetação, nomeadamente os fetos, crescendo com mais vigor a ponto de nos meses de Verão cobrir os terrenos de forma densa e novamente propícia aos incêndios, sobretudo a partir de Agosto, altura em que os fetos começam a secar. Creio que todos nós temos visto essa situação. Assim pergunta-se, qual a eficácia da obrigatoriedade de uma lei que, sendo positiva, é algo fundamentalista e "cega"? Como a melhorar de forma mais realista e sem penalizar demais os proprietários?

A ver vamos, mas sendo certo que será sempre positiva a limpeza nas envolventes das habitações e nas margens das estradas, por si só o problema dos incêndios e seus efeitos nefastos não será resolvido de todo porque dependerá sempre das condições climatéricas e da sua principal causa, a criminosa. Assim, o êxito pelo menos na sua redução e limitação passará por fortes medidas ao nível jurídico e penal e também na prevenção, com acções de limpeza devidamente estabelecidas e orientadas, mas também promover a vigilância, abertura e manutenção de caminhos, construção de aceiros, reservatórios de água, etc, etc. Como se vê, as soluções são muitas e diversas sem ir apenas pelo fundamentalismo de estabelecer 20 cm para altura de vegetação, 50 cm para arbustos e outras alarvidades definidas por quem não conhece o mínimo da realidade no terreno.

Vamos indo e vendo.