Creio que quem acompanha o fenómeno do futebol, por estes dias ficou a saber do caso Lopetegui, o treinador da selecção espanhola, presente e favorita no campeonato do mundo que arranca hoje na Rússia. De facto, numa fase de treino e concentração para a competição, já em terras russas, o treinador basco foi contratado pelo Real Madrid, órfão de Zidane, e em vez de deixar para depois do mundial a formalização do contrato e a divulgação da notícia, como se impunha, tudo foi tratado e comunicado em pleno estágio, ao arrepio do combinado com o presidente da Federação Espanhola, Luis Rubiales, e até mesmo dos superiores interesses de concentração da equipa, como se compreenderá.
Face a esta situação e aos princípios e procedimentos inerentes, o presidente da Federação só podia ter tomado a decisão que tomou, a de despedir Lopetegui e nomear um substituto (Fernando Hierro). Os riscos desta decisão e neste timing, são concretos para a equipa, mas há princípios e valores de que não se pode abrir mão. Pelas reacções que se seguiram a esta "bomba", parece ser mais ou menos consensual a opinião de que foi tomada a decisão acertada por parte do responsável federativo.
Julen Lopetegui, que já havia passado, sem êxito pelo F.C. do Porto, mesmo aí e em muitas circunstâncias mostrou ter pouco nível quanto a fair-play, e sempre com muita sobranceria. Esta sua recente atitude, mesmo que tendo em conta o peso do Real Madrid, mesmo que segunda ou terceira escolha, só lhe acentua esse défice de carácter. Poderá até a vir a ter sucesso como treinador, o que não é difícil com um plantel de estrelas, mas ninguém lhe tirará este rótulo de traidor e de mau carácter.
A ver vamos, mas creio que é justo que face ao seu desplante não lhe tivesse sido dado o prémio de dirigir a selecção durante a prova que hoje começa, até porque se abririam precedentes perigosos. Em todo o caso, o percurso que a selecção espanhola vier a ter neste mundial, ficará sempre ligado à sua decisão e às suas consequências, para o bem e para o mal, sendo que para bem de Lopetequi será desejável que a selecção tenha êxito, porque de alguma maneira colherá a sua parte de louros. Correndo mal as coisas, acentuarão o peso da traição e certamente que muitos dos aficionados espanhóis jamais lhe perdoarão.
Das muitas ilacções deste caso, que não é único e nem vai deixar de ser, é que sobretudo no futebol profissional tanto jogadores como até treinadores, mais do que amor e paixão pelos emblemas que representam e até beijam, gostam sobretudo o dinheiro e, se possível conciliar este com o prestígio e o êxito pessoais. Como alguém já disse, no geral esta classe não difere muita das prostitutas de rua, alinhando com quem melhor lhes pagar. Dar-lhes mais que esse crédito é fanatismo porque o verdadeiro amor aos clubes por parte de atletas, é história de um passado já bem longínquo.