30 de setembro de 2018

Janelas com gente dentro




Há já uns anos valentes, recordo-me de uma pequena mas interessante edição de postais com o tema "Janelas com Gente Dentro". Se a memória me não atraiçoa, creio que foi lançada pelo jornalista Orlando Macedo,  actualmente director do jornal centenário "O Correio da Feira". Grosso modo era o retrato de janelas, de diferentes feitos e feitios.
Tanto então como actualmente gosto do conceito pelo significado da coisa e dele nunca mais me esqueci.
De facto as janelas são os olhos das casas, e na sua diversidade de formas e feitios, nem sempre cumprindo os cânones da boa arquitectura, podem dizer muito de quem por elas olha o mundo, mesmo que este se resuma à vizinhança e ao limite pequenino da sua rua. À volta delas, das janelas, podemos partir numa viagem de suposições e tentar compreender o que de dentro para fora, as almas que habitaram ou habitam as casas viram ou continuam a ver. Banalidades, cenas do quotidiano, um carro que passa, uma pessoa solitária, um cão vadio, um desconhecido com ares suspeitos, um político sorridente em campanha? Apenas isso ou mais do que isso? 
Neste pensamento ligado às janelas, mas sobretudo à vivência observada através delas, de dentro para fora e de fora para o interior, questiono-me se na janela na foto acima, em rigor um vitral, porque fixo, existente na fachada sul da capela do Viso, pode também ser associada a gente dentro? Concerteza que sim, a gente que por ali passou e passa, em dias de  missa, em dias de festa, bem como a gente sagrada que por ali mora, mesmo que na forma de estátuas ou imagens moldadas pela arte humana. Assim, neste espírito, quem sabe se por esse vitral não espreitou já a Senhora da Boa Fortuna ou por ele passaram raios de sol coloridos pelas vidraças marteladas a beijar a fronte do menino em seus braços? Quem sabe?