Como qualquer terra, Guisande sempre teve e tem, ainda, figuras que por uma ou outra característica pessoal, profissional ou de outra natureza, acabam por ser justamente consideradas como carismáticas ou "castiças", isto é, de boa casta, peculiares, com carisma e características únicas. Assim, não é condição para tal adjectivo que seja alguém formado como doutor, professor ou engenheiro. De resto, neste lote, há por aí doutores e engenheiros que pouca ou nada fizeram ou fazem a favor do bem comum e da comunidade onde se inserem e o seu contributo é o mesmo de que um qualquer iletrado ou até bem menos. Mas isso são outras histórias.
Neste contexto, e assente que uma boa e importante figura não tem que ser doutor ou engenheiro, podíamos aqui evocar figuras guisandenses, bem castiças, carismáticas, que porventura, fruto dos tempos, até não passaram de ilustres analfabetos, iletrados, daqueles incapazes de ler uma palavra do tamanho da torre da nossa igreja, mas em contrapartida, isso sim, doutorados na universidade da vida, alguns verdadeiros mestres nas cadeiras do saber, da manha, da cultura geral, da história, da natureza e das suas coisas, tão especialistas na arte de estrumar um campo lavradio como na poda da vinha ou como parteiros de uma vaca prenha.
Destas muitas figuras, é claro que gostaria de, amiúde, evocar algumas, mesmo que de forma breve e sem preocupações biográficas, mas também, reconheça-se, não é tarefa fácil e nem sempre o tempo disponível é simpático.
Aqui nesta minha casa digital, já falamos de algumas importantes figuras, desde logo o Pe. Francisco Gomes de Oliveira, como também o Cónego António Ferreira Pinto, Pe. Agostinho da Silva e o Pe. José Pereira de Oliveira. Todavia, muitas outras figuras guisandenses, do passado e do presente, mereciam ser aqui lembradas, mesmo que os seus feitos não fossem os ligados às letras, artes e ciências, como atrás se disse. Mas, quem sabe, aos poucos vá preenchendo a caderneta.
Neste pensamento e vontade, recordo que pelo início dos anos 90 o jornal "O Mês de Guisande" procurou saber um pouco mais de outras figuras e a algumas fez entrevistas onde se ficou a saber um pouco mais das suas histórias e estórias, nomeadamente dos já falecidos Joaquim Dias, o "Pisco", Belmiro da Conceição Henriques, a Ti Clara e Ti Ana Alves. Deles já só resta a saudade mas através dessas páginas ficaram gravadas memórias que têm o mesmo valor que livros e diplomas.
Neste enredo todo, e tendo vós já visto as imagens acima, muitos, os mais velhos, terão já reconhecido a figura do Sr. José Pinho, morador que foi no lugar da Gândara, vizinho da Casa Neves, no gaveto do velho caminho para o Santo Ovídeo.
Para os mais novos, menos dados a estas coisas de outros tempos, o que é normal, podemos referenciar que era o avô da Marisa Pinho e por conseguinte pai do Sr. Ramiro Pinho, que desde há anos habita no lugar do Casal, na freguesia de Gião, onde tem um escritório de contabilidade.
José de Pinho nasceu em 28 de Agosto de 1912 e faleceu com quase 82 anos em 26 de Março de 1994. Do que conheço e me lembro, era irmão do também conhecido e carismático Miguel de Pinho (cabo cantoneiro) que viveu longos anos próximo da ponte da Lavandeira e da também conhecida Miquelina Pinho que viveu em Casaldaça. Como filhos, do meu conhecimento, deixou o Ramiro (a viver em Gião) e a Fernanda (creio que a viver por Vila Maior).
Já quanto ao recorte de uma primeira página do jornal semanário "O Correio da Feira", datado de 11 de Agosto de 1978, digamos que é ele o acender do rastilho para esta simples evocação ou memória que pretendo fazer sobre o Sr. José de Pinho. Como poderão observar, o tal recorte ainda tem colada a vinheta da assinatura do jornal. De facto José de Pinho foi durante vários anos assinante deste centenário e histórico jornal feirense, o qual ainda se publica. Não eram muitos os assinantes em Guisande, mas ele era um deles.
Do uso deste jornal, vem precisamente a minha primeira memória sobre o Sr. José Pinho. Era eu ainda criança e sempre que ia à Missa ou ao Terço, lá estava ele, na sua figura imponente, pois era homem de porte avantajado, com uma altura muito próxima dos 1,90 m, e nos momentos em que as regras pediam aos fieis para se ajoelharem, ele sacava do bolso do casaco um exemplar do jornal "O Correio da Feira", dobrado em quatro partes e o pousava no soalho da igreja para nele assentar os joelhos. Não que fosse grande almofada o jornal, mas porque impedia de sujar as calças. Era assim naqueles tempos e esse gesto era muito frequente. Alguns homens tinham um lenço só para esse propósito, mas de todos apenas me lembro de ser feito com um jornal por esse morador da Gândara. Ora como era assinante, todas as semanas lá recebia um novo exemplar que certamente guardava no bolso para ler e reler e usar como tapete nas suas devotas genuflexões, fosse na missa à consagração fosse no terço ou adoração ao laudate.
José de Pinho, que se conste não era doutorado, mas era notoriamente um homem culto e de letras. De resto, sempre ouvi apregoar que "quem lê jornais, sabe mais". Para além do referido jornal "O Correio da Feira", era simultaneamente assinante de outros títulos da imprensa escrita, como o "O Comércio do Porto", o "Tempo" e ainda o nosso jornal mensal "O Mês de Guisande", do qual sempre foi um carinhoso assinante. Por inúmeras vezes, quando eu ali ia distribuir o jornal, antes do correio o fazer, ficava largos minutos á conversa com este "doutor" da Gândara. Creio que quem o bem conheceu e com ele conversou não lhe recusará este estatuto.
Por conseguinte, pela amostra dos jornais que assinava e por conseguinte lia com regularidade, notoriamente era um homem bem formado e informado das actualidades, não só do concelho como do país, nomeadamente nesses tempos tão conturbados dos anos 70, politicamente muito marcantes no período pós 25 de Abril de 1974.
De José de Pinho sabe-se que era uma pessoa muito conservadora, homem de ideologia de direita, de resto a justificar a sua relação com o CDS de Freitas do Amaral e Adriano Moreira, que sempre foi apoiante convicto. Não surpreende, pois, que tenha sido assinante do jornal semanário "Tempo", um órgão informativo conotado com a direita. Não se sabe até que ano José de Pinho foi assinante deste jornal marcadamente político, mas eventualmente apenas até finais da década de 1980. De resto os anos 80 foram bem mais calmos e a jovem democracia portuguesa aos poucos ia ficando estabilizada. Talvez por isso e por algumas convulsões internas entre redacção e administração, o "Tempo" terminou o seu tempo e sua missão findou no final do ano de 1990. Todavia, foi marcante e vários jornais retomaram muito das suas orientações, tanto gráficas como de abordagem jornalística.
Ainda quanto ao semanário "Tempo" designado de "liberal e independente", para o contextualizar na figura e personalidade do seu assinante Nº 1881, José de Pinho, este jornal foi fundado em 29 de Maio de 1975 por Nuno Rocha (Porto, 13 de Fevereiro de 1933- Cascais, 5 de Julho de 2016). Este jornalista, que alguém caracterizava como cosmopolita, passou antes por títulos como o "Primeiro de Janeiro", "Diário Ilustrado", "Diário de Lisboa" e "Diário Popular". Considerado controverso e conservador, implementou um estilo no jornal que depois Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso levariam para "O Independente".
Aqui nesta minha casa digital, já falamos de algumas importantes figuras, desde logo o Pe. Francisco Gomes de Oliveira, como também o Cónego António Ferreira Pinto, Pe. Agostinho da Silva e o Pe. José Pereira de Oliveira. Todavia, muitas outras figuras guisandenses, do passado e do presente, mereciam ser aqui lembradas, mesmo que os seus feitos não fossem os ligados às letras, artes e ciências, como atrás se disse. Mas, quem sabe, aos poucos vá preenchendo a caderneta.
Neste pensamento e vontade, recordo que pelo início dos anos 90 o jornal "O Mês de Guisande" procurou saber um pouco mais de outras figuras e a algumas fez entrevistas onde se ficou a saber um pouco mais das suas histórias e estórias, nomeadamente dos já falecidos Joaquim Dias, o "Pisco", Belmiro da Conceição Henriques, a Ti Clara e Ti Ana Alves. Deles já só resta a saudade mas através dessas páginas ficaram gravadas memórias que têm o mesmo valor que livros e diplomas.
Neste enredo todo, e tendo vós já visto as imagens acima, muitos, os mais velhos, terão já reconhecido a figura do Sr. José Pinho, morador que foi no lugar da Gândara, vizinho da Casa Neves, no gaveto do velho caminho para o Santo Ovídeo.
Para os mais novos, menos dados a estas coisas de outros tempos, o que é normal, podemos referenciar que era o avô da Marisa Pinho e por conseguinte pai do Sr. Ramiro Pinho, que desde há anos habita no lugar do Casal, na freguesia de Gião, onde tem um escritório de contabilidade.
José de Pinho nasceu em 28 de Agosto de 1912 e faleceu com quase 82 anos em 26 de Março de 1994. Do que conheço e me lembro, era irmão do também conhecido e carismático Miguel de Pinho (cabo cantoneiro) que viveu longos anos próximo da ponte da Lavandeira e da também conhecida Miquelina Pinho que viveu em Casaldaça. Como filhos, do meu conhecimento, deixou o Ramiro (a viver em Gião) e a Fernanda (creio que a viver por Vila Maior).
Já quanto ao recorte de uma primeira página do jornal semanário "O Correio da Feira", datado de 11 de Agosto de 1978, digamos que é ele o acender do rastilho para esta simples evocação ou memória que pretendo fazer sobre o Sr. José de Pinho. Como poderão observar, o tal recorte ainda tem colada a vinheta da assinatura do jornal. De facto José de Pinho foi durante vários anos assinante deste centenário e histórico jornal feirense, o qual ainda se publica. Não eram muitos os assinantes em Guisande, mas ele era um deles.
Do uso deste jornal, vem precisamente a minha primeira memória sobre o Sr. José Pinho. Era eu ainda criança e sempre que ia à Missa ou ao Terço, lá estava ele, na sua figura imponente, pois era homem de porte avantajado, com uma altura muito próxima dos 1,90 m, e nos momentos em que as regras pediam aos fieis para se ajoelharem, ele sacava do bolso do casaco um exemplar do jornal "O Correio da Feira", dobrado em quatro partes e o pousava no soalho da igreja para nele assentar os joelhos. Não que fosse grande almofada o jornal, mas porque impedia de sujar as calças. Era assim naqueles tempos e esse gesto era muito frequente. Alguns homens tinham um lenço só para esse propósito, mas de todos apenas me lembro de ser feito com um jornal por esse morador da Gândara. Ora como era assinante, todas as semanas lá recebia um novo exemplar que certamente guardava no bolso para ler e reler e usar como tapete nas suas devotas genuflexões, fosse na missa à consagração fosse no terço ou adoração ao laudate.
José de Pinho, que se conste não era doutorado, mas era notoriamente um homem culto e de letras. De resto, sempre ouvi apregoar que "quem lê jornais, sabe mais". Para além do referido jornal "O Correio da Feira", era simultaneamente assinante de outros títulos da imprensa escrita, como o "O Comércio do Porto", o "Tempo" e ainda o nosso jornal mensal "O Mês de Guisande", do qual sempre foi um carinhoso assinante. Por inúmeras vezes, quando eu ali ia distribuir o jornal, antes do correio o fazer, ficava largos minutos á conversa com este "doutor" da Gândara. Creio que quem o bem conheceu e com ele conversou não lhe recusará este estatuto.
Por conseguinte, pela amostra dos jornais que assinava e por conseguinte lia com regularidade, notoriamente era um homem bem formado e informado das actualidades, não só do concelho como do país, nomeadamente nesses tempos tão conturbados dos anos 70, politicamente muito marcantes no período pós 25 de Abril de 1974.
De José de Pinho sabe-se que era uma pessoa muito conservadora, homem de ideologia de direita, de resto a justificar a sua relação com o CDS de Freitas do Amaral e Adriano Moreira, que sempre foi apoiante convicto. Não surpreende, pois, que tenha sido assinante do jornal semanário "Tempo", um órgão informativo conotado com a direita. Não se sabe até que ano José de Pinho foi assinante deste jornal marcadamente político, mas eventualmente apenas até finais da década de 1980. De resto os anos 80 foram bem mais calmos e a jovem democracia portuguesa aos poucos ia ficando estabilizada. Talvez por isso e por algumas convulsões internas entre redacção e administração, o "Tempo" terminou o seu tempo e sua missão findou no final do ano de 1990. Todavia, foi marcante e vários jornais retomaram muito das suas orientações, tanto gráficas como de abordagem jornalística.
Ainda quanto ao semanário "Tempo" designado de "liberal e independente", para o contextualizar na figura e personalidade do seu assinante Nº 1881, José de Pinho, este jornal foi fundado em 29 de Maio de 1975 por Nuno Rocha (Porto, 13 de Fevereiro de 1933- Cascais, 5 de Julho de 2016). Este jornalista, que alguém caracterizava como cosmopolita, passou antes por títulos como o "Primeiro de Janeiro", "Diário Ilustrado", "Diário de Lisboa" e "Diário Popular". Considerado controverso e conservador, implementou um estilo no jornal que depois Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso levariam para "O Independente".
Por tentar fundar o "Tempo" Nuno Rocha foi preso a 13 de Abril de 1975, em casa, por membros do COPCON (Comando Operacional do Continente), ficando detido durante 17 horas em Caxias. Este facto não deixa de ser significativo pois mesmo depois da revolução, continuou a haver actos persecutórios criticados ao antigo regime recém derrubado, nomeadamente privação do exercício da liberdade, incluindo a de imprensa e prisão por motivos políticos. No fundo, era fruta da época e para além dos fascistas de direita havia os de esquerda. Coisas e singularidades.
Em 1976, em pleno "Verão Quente", o semanário chegou a vender mais de 100 mil exemplares. Paulo Portas, conhecido político, estreou-se nele como cronista e mais tarde veio a fundar o jornal "O Independente".
Como já referi, o"Tempo" era assumidamente de centro-direita e surgiu então para contrariar a tendência de esquerda dos jornais da época que dominava a imprensa portuguesa. Os articulistas do semanário "Tempo" escreviam e davam conta das preocupações perante o rumo que Portugal levava, durante o PREC e na sua aventura que indiciava resultados catastróficos para o país. Pressentia-se que o país saíra de uma ditadura de direita e que se encaminhava para uma de esquerda, traindo o que diziam ser a gênese da revolução de Abril de 74.
O "Tempo" era assim uma contra-corrente e talvez por cá José de Pinho encontrasse nele e nas suas posições editoriais uma linha de pensamento ideológico que entendia ser a melhor para o rumo do país e daí o tronar-se assinante.
Naturalmente que para além desta faceta de homem de leituras, há muitos outros episódios ligados à figura e personalidade de José de Pinho, mas creio que para além deles, e outros terão melhores testemunhos, por mim quero simplesmente realçar um aspecto que ressaltava, o seu lado de homem culto, que lia muito e procurava estar fundamentado e informado das suas ideias e ideais. Por mim, é essa a memória que guardarei desse homem e dessa figura guisandense.