18 de janeiro de 2019

Rui, dá-me a tua camisola


E aí está. Toneladas de defensores da verdade e moralidade a colocar num pedestal o suposto hacker Rui Pinto, para todos não um criminoso mas sim um herói a merecer estátua, por "revelar a corrupção". Ora este heroísmo sabe bem quando, por enquanto, os acusados de corrupção e esquemas manhosos moram para o lado da 2ª circular lisboeta. Em resumo, a nobre aplicação do ditado de que "pimenta no cu dos outros no nosso é refresco".

Pessoalmente eu não tenho certeza nenhuma, nem quanto a Rui Pinto e suas motivações, nem quanto ao resto. Porque ainda nada foi provado, julgado e condenado em Rui Pinto, nem a propalada "corrupção" por parte de algumas entidades afectadas com o ataque informático, nem ainda houve julgamentos ou condenações. A presunção de inocência e acção da polícia e depois da Justiça aqui para estes moralistas são meros amendoins. Peanuts.

Com a mesma leviandade poderíamos tecer aqui muitos cenários e especulações desde a "encomenda" do trabalho, a quem interessaria, a sua motivação se por dinheiro e ou clubismo, a suposta chantagem, etc, etc. Mas deixemos isso com a polícia e a justiça, sabendo que, olhando para o passado, nem tudo o que se escuta, se vê ou se diz é coisa dourada.

Todavia, este cenário de defesa dos meios justificarem os fins é uma faca de dois gumes e preocupa-me que veja nele tantos defensores. Afinal, este suposto hacker, com os seus conhecimentos e eventuais apoios de outros como ele, pode, com a mesma facilidade que suposta e ilegitimamente acedeu a dados e informações privados, do Benfica mas não só (fala-se mesmo de organizações do Estado), podia ou pode, porque terá demonstrado ter capacidade para isso, aceder aos nossos dados pessoais, mesmo aos mais íntimos, até aos financeiros e fiscais e mesmo aceder a contas bancárias e nelas movimentar a seu favor dinheiros das nossas poupanças. Casos destes são mais que muitos. Em resumo, Ruis Pintos que podem de um momento para o outro destruir vidas não só de supostos e eventuais "criminosos" como de pessoas inocentes. Mas como não foi esse o caso, mas sim dirigido de modo incisivo e massivo ao clube nosso rival, estamos todos bem, de consciência tranquila a ver o fogo na casa do vizinho. - Fez bem o incendiário porque esse vizinho era a nossa fonte de preocupações e insónias. Se o fogo acabar por alastrar à nossa própria casa, logo se verá. - pensarão.

Não. Por mim não quero este cenário de menorização do acto criminoso e não me parece que todos os meios justifiquem os fins. Em países civilizados um crime não pode justificar outro, assim como um assassino, mesmo que de várias pessoas e de modo premeditado, não é condenado com a pena de morte. Mas, parece que há quem pense assim, que o crime deve ser recompensado, sobretudo quando afecta os nossos inimigos e adversários.