17 de junho de 2019

A balada da rotunda dos cães


Três cães, jovens, aparentemente irmãos. Vaguearam pela freguesias mas acabaram por fazer da sua casa a rotunda da Farrapa. Como algumas almas caridosas ali foram depositando comida e água, deixaram-se ficar. O castanho, parece que alguém o levou. Esperemos que alguém que lhe dê a dignidade e carinho merecidos. Para maus tratos, fome e miséria mais vale que fiquem em liberdade. Ficaram, pois, dois, pretos. 
Hoje, passando por ali, só vi um. O outro, fica a dúvida, resgatado do abandono ou ausente por momentos?
De algum modo a rotunda e estes cães acabam por ser um símbolo da situação dos animais abandonados ou simplesmente deixados à sua sorte. Por um lado a incapacidade ou indiferença das entidades e autoridades, por outro, a impotência de muitas pessoas que mesmo gostando de animais não têm possibilidades de os resgatar e acolher, porque já com animais e com as despesas e responsabilidades inerentes ou porque sem condições de os receber. É que hoje receber cães e deles tornar-se dono, para além das despesas com saúde e alimentação, tem o peso e a responsabilidade das autoridades, obrigando a vacinas, registos e licenças anuais. Essas mesmas autoridades que não têm soluções dignas e condignas para recolher muitos dos animais à solta, vadios ou abandonados. Como diria alguém, autoridades e instituições fortes com os fracos e fracas com os fortes.
Não deixa, pois, de ser esta uma balada triste, a da rotunda dos cães.