30 de setembro de 2019

Malhar em ferro frio


Confesso que relativamente à campanha para as Legislativas marcadas para o próximo Domingo, 6 de Outubro, vou "consumindo" o que me é servido pelos média, televisão, rádio e jornais. Confesso igualmente que estou na casa dos duplamente  indecisos: Ir ou não votar e indo, a quem entregar a cruzinha.

Em todo o caso, o que não é novidade, com o aproximar da data e pelo facto dos números que as sondagens vão ditando não agradarem  a uns e a outros, mesmo que por motivos diferentes, o discurso tende a inflamar e de uma parte procura-se meter o dedo em certas feridas, como o caso de Tancos, na berlinda dos dias, e do outro procura-se passar pelo fogo sem qualquer chamusco.

Parece-me, todavia, que o PS tem reagido de forma dura mas algo despropositada porque as questões colocadas à sua direita fazem na realidade pelo menos algum sentido e não vejo que sejam julgamentos, apenas interrogações óbvias e legítimas num quadro político. Houve ou não conhecimento, envolvimento e encobrimento e se sim, qual a responsabilidade e ilacções políticas. 

Pois claro, nesta altura do jogo não convém ir à casa de banho sob risco de se escorregar, mas impunha-se uma clarificação com coerência e sentido de Estado e não seria difícil fazê-lo. Ao contrário, pelas obreiras Carlos César e Augusto Santos Silva, entre outros, saiu a defesa da colmeia, com respostas / ataques duros. Do ainda ministro dos Negócios Estrangeiros, não surpreende, já que está na linha da sua célebre frase de 2009 de que "Gosto de malhar na Direita". Já Carlos César, a caminho de uma reforma dourada, também está na linha do camarada Jorge Coelho quando algures por 2001 dizia que "quem se mete com o PS, leva!.

Por outro lado, Augusto Santos Silva acusa a Direita de pretender colocar as instituições do Estado na lama, o que não deixa de ser irónico já que Azeredo Lopes, ex ministro da Defesa, e um dos envolvidos no caso de Tancos, terá acusado, mesmo que em entrelinhas, o Ministério Público de "conspiração e ataque políticos" contra o partido". Esta posição de resto, mesmo que não assumida por quem anda no andor da procissão da campanha, dizem os média que, em "off", colhe a mesma opinião no PS.
Ora o Ministério Público não pode ter uma agenda em função da da política e de alguma maneira "acusar" a instituição de "conspiração ou de ataque político" é grave. Mas o Ministro dos Negócios Estrangeiros, no seu low profile, diz que a lama anda no outro lado da barricada. Efeitos de perspectiva.

Por sua vez, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa têm, e bem, procurado minimizar e passar ao lado  quanto baste da fogueira, até porque a sua assinatura no relatório final  do inquério em sede de Comissão Parlamentar ao caso de Tancos, em que branqueia o papel do Governo e de Azeredo Lopes, pode vir a fazer mossa, mas se fizer, que seja mais à frente. 

Como se vê, políticos aguerridos. Mas também é verdade que Rui Rio não tinha necessidade de mexer no cócó já que este cheirava mal o suficiente e os portugueses não militantes não são anjinhos nem mentecaptos a ponto de não perceberem os contornos e gravidade do assunto e das respectivas conclusões e consequências políticas: Se relevantes a ponto de condicionarem o sentido de voto, se apenas "lana caprina".

Assim, este clima não ajuda em nada o esclarecimento e troca de ideias e ideais e desde logo para a melhoria da imagem geral classe política, que é baixa. Não havia necessidade.

Está ainda por vir o dia em que as campanhas eleitorais não tenham estes ingredientes no caldeirão. O contrário é que seria surpreendente.