A situação que vivemos decorrente do contexto da pandemia da Covid-19 é realmente séria, desde logo pela saúde, pois claro, e também por todo o resto, como a economia e as finanças das pessoas e famílias, com perda de empregos e quebra de rendimentos e deles a miséria e pobreza.
Obriga-nos a todos a cuidados redobrados, na higiene, no uso de máscara e distanciamento social. Por outro lado, condiciona-nos mesmo com sentimentos de medo e insegurança. Porque todos, impossibilitados de vivermos numa redoma hermética, estamos sujeitos ao mesmo.
Esta chamada segunda vaga, vão-nos fazendo crer que resulta do relaxamento e incumprimento por parte dos "malandros dos portugueses", quando está-se a verificar que a vaga está a atingir todos os países, nomeadamente os europeus. Por outro lado, estava já anunciada por aquela entidade estranha e de posições erráticas, a Organização Mundial de Saúde.
Assim, não! Não nos venham dizer que foi de um relaxamento geral dos portugueses porque do relaxamento de Julho e Agosto, no pico do Verão e das férias, em que se andou relativamente à vontade, por feiras, praias, restaurantes e viagens, não houve uma imediata repercussão nos meses seguintes.
Esta chamada segunda vaga está a ocorrer neste mês de Outubro e por isso, em teoria e de acordo com o que vamos ouvindo sobre as características do vírus e sua incubação, quando muito teve origem em infecções originadas já final do mês de Setembro, precisamente quando as pessoas na generalidade abrandaram e voltaram às escolas e aos empregos. Este crescimento relativamente repentino dever-se-á, pois, a outras causas que não necessariamente um relaxamento de situações de lazer, para além do recomendado .
Apesar disso, apesar desta percepção e destes sentimentos, e da seriedade do contexto e consequências, não temos que concordar nem pactuar com certas posições e medidas que nos vão sendo enfiadas de forma arbitrária e com critérios díspares e mesmo atentatórias dos direitos e garantias previstas pela Constituição.
Inventar num fim-de-semana normal, a proibição de circulação em municípios limítrofes, com excepções igualmente absurdas, é outra aberração e sem qualquer fundamento prático e que só visa atacar a religião e os seus costumes e tradições, como já havia sido feito na Páscoa. Por outro lado, leva a perguntas óbvias: Por exemplo, qual a diferença de uma curta deslocação ao concelho vizinho para um almoço num qualquer restaurante local e, pelo contrário, realizar esse almoço no concelho de residência, porventura num restaurante mais frequentado? Nenhuma, nicles, zero. Qual a diferença de um residente, por exemplo, na freguesia do Vale ou Romariz, ser impedido de ir almoçar a um restaurante a Escariz (a 2 ou 3 Km) e em contrapartida poder fazê-lo em Espargo ou em Argoncilhe, fazendo 20 ou 30 Km?
Este tipo de absurdos a juntar a outros, são de facto prova de que as coisas têm andado ao calhas, sem qualquer rumo e lógica.
Para além de tudo isso, a permanente negação do excessivo aumento de mortes não relacionadas à Covid-19, continuando-se a dar ênfase apenas ao falecimentos decorrentes da Covid, é de arrepiar pela indiferença a uma realidade que é por demais óbvia. Para trás ficam milhares de actos médicos, tratamentos e cirurgias levando ao agravamento de doenças e ao tal excesso na média de mortes, que continuam a ser irrelevantes para quem manda e que não fazem parte das contas.
Os nossos governantes e os serviços que tutelam são assim os principais negacionistas. Criticar estas situações, criticar estas políticas erráticas, não é sinal de negacionismo, como alguns gostam de apelidar. Uma coisa não pode relevar a outra.
Sendo certo que o contexto é difícil para todos, e certamente para o Governo e suas entidades, pelo menos poderia existir um pouco mais de transparência e objectividade, mesmo que a mesma resulte de uma confissão da incapacidade do SNS em lidar com a situação e um pedido de desculpas aos portugueses por durante várias décadas, sob vários Governos, terem andado a maltratar o sistema e a desconsiderar os seus profissionais. Agora, perante uma situação destas, a coisa tinha necessariamente que dar nisto, porque não só admitem a falha e a incapacidade como, pelo contrário, vão apregoando que a coisa funciona. Mesmo afirmando que a coisa funciona, no fundo já admitem recorrer aos serviços privados, tantas vezes considerados como os maus da fita e que só são chamados quando a coisa está mesmo feia. Essa opção de contratação dos hospitais públicos deveria ter continuado e não ter sido, como foi, interrompida logo que houve sinais de abrandamento. Pior cego é aquele que não quer ver, diz o povo.
Há limites para a compreensão e paciência para com tantos tiros ao lado ou, pior do que isso, nos próprios pés..