Anda pelo Facebook uma mensagem que grosso modo diz que no tempo de Salazar, Portugal não tinha dívida pública e tinha uma das maiores reservas de ouro.
O "Observador" pegou no assunto e depois de analisada a questão classifica a mensagem como enganadora e isto porque Portugal tinha nessa altura efectivamente dívida pública.
Em todo o caso, confirma que em 1974 a nossa dívida pública "equivalia a
cerca de 13,5% do PIB, ou seja, da riqueza gerada na altura em que se deu a revolução dos cravos, segundo os dados do FMI. Em contrapartida " ....Hoje, a dívida representa 117,7% do PIB, segundo dados oficiais da Pordata, que também podem ser encontrados no relatório do Conselho de Finanças Públicas. Portanto, a dívida pública é hoje muito maior, apesar de ter existido dívida nos dois períodos de tempo.
Quanto à questão do ouro:
"...De facto, Portugal tinha uma das maiores reservas de ouro do mundo. Segundo o Banco de Portugal, em 1974, o país tinha 865,94 toneladas de ouro, estando em oitavo lugar num ranking a nível mundial, sendo essa uma das marcas históricas do legado de Salazar. Neste momento, e segundo os dados mais recentes (que são de 2019), Portugal está em 14º lugar no ranking mundial de países com as maiores reservas de ouro, segundo dados do World Gold Council".
Em resumo, a mensagem é enganadora porque não é totalmente correcta, mas no essencial é verdadeira. Obviamente que as razões que concorreram e concorrem para isso são várias e conforme o interesse de cada um. Argumentos válidos não faltarão.
Mas se é certo que, apesar de em 1974 o país estar envolvido numa guerra estúpida e ceifadora de vidas e recursos, estava nessa posição de percentagem de dívida e detenção de reserva de ouro, também é verdade que, para além da questão do regime político, era notório o atraso em relação a muitos índices de qualidade de vida de outros países europeus.
Mas também é certo que tendo já passado quase 50 anos, Portugal inverteu em grande parte essa situação e podemos dizer que praticamente estamos a par da Europa, mas a que custo? Pela responsabilidade, rigor, organização, produtividade, combate à corrupção e interesses partidários? Seria bom sinal que assim fosse, mas, infelizmente, e como já comentei outro dia, devido a grandes apoios e subsídios a fundo perdido da União Europeia ao longo de mais de 30 anos, mas sobretudo a custo do endividamento, que é brutal e certamente inamortizável nas próximas décadas. Não só do Estado, mas das famílias, empresas e instituições.
Portanto, cada um que pense e analise como bem entender, mas há coisas que não podem ser escamoteadas, nem no antes, quase há meio século, nem no depois, nem na actualidade.