23 de abril de 2021

Um, dois, esquerda, direita!

Ser de esquerda ou de direita, dizem, é uma questão ideológica. 

Há partidos de direita, há partidos de esquerda e há partidos do centro. Cada uma das facções ou tendências acha-se senhora da verdade em relação às demais. E, naturalmente, por não concordarem ou concordarem no desacordo, vão fazendo disso a chamada luta política, com mais ou menos extremismos, já que, como o peidar-se ou arriar o cagalhão, há coisas que são tão comuns ao varredor da valeta como ao senhor doutor.

Mas, afinal o que é que isso significa, já que para uma larga maioria, que está sempre a ouvir esta cantiga do esquerda direita, como se fosse uma marcha na parada militar, não percebe patavina da coisa?

Relata-nos a História que os conceitos de política de direita e política de esquerda surgiram na sequência da Revolução Francesa, no século XVIII, relacionando-se com o lugar ou posição que os políticos ocupavam nas cadeiras do parlamento francês. Assim, aqueles que eram a favor de que o rei tivesse mais poder, sentavam-se do lado direito. Pelo contrário, os que queriam que o rei tivesse menos poder, sentavam-se à esquerda. 

Em teoria, os que se designam de Esquerda pautam as suas ideias pela luta contra as desigualdades, promovendo-se o interesse colectivo em desfavor do particular. Ou seja, tornar uma sociedade mais equilibrada, sem ricos nem pobres.

Esta ideia associada à Esquerda é tão bonita quanto utópica, já que onde foi implementada e fundada em revoluções políticas e sociais sangrentas, como na União Soviética e China, os resultados foram desastrosos e a pobreza extrema andou lado a lado com genocídios e repressões, com controlos de um aparelho de estado perpetuado e baseado no terror. Em resumo, a coisa nunca funcionou e não se conhece um único exemplo na História que sirva disso mesmo, bom exemplo. Na questão das repressões, não se têm distinguindo as ditaduras de Esquerda ou de Direita.

Já à Direita conota-se a promoção da liberdade para a iniciativa individual e uma economia baseada na meritocracia, premiando-se quem trabalha, investe e desenvolve, procurando desincentivar o parasitismo de quem pretende viver apenas à custa do estado social, ou seja, uns a viver à custa do trabalho e suor dos demais.

Ainda em teoria, já o Centro, como será natural, procura aplicar as ideias da Esquerda equilibrando-as com as da Direita. Em resumo, tem sido em grande parte esta a tendência nos países com regimes democráticos. Portugal é disso exemplo  com governos ora do Partido Socialista ora do Partido Social Democrata, cujo poder lhes é dado por uma grande massa de eleitores que se situa precisamente ao Centro. Ora pendendo mais à Esquerda, ora mais à Direita.

Posto isto, não há dúvida que a menos má ideologia, porque mais equilibrada e menos facciosa ou extremada, reside no Centro. Procurar esbater as desigualdades, pois claro, ter um Estado Social a quem dele precise (e precisamos todos), facultar de forma universal e gratuita ( um eufemismo porque tudo se paga com impostos) a Educação e a Saúde, mas sempre de forma equilibrada e manter os sectores produtivos e empresariais abertos à iniciativa privada e onde de facto se imponha o mérito em todos os sectores. Apoiar socialmente quem precisa e seja vulnerável, mas não facilitar no parasitismo e oportunismo de muitos cujo esforço e propósito de vida é apenas o de viver à custa dos outros. Em resumo, uma sociedade justa e equilibrada mas privilegiando-se o dar a cana e o anzol  e não apenas dar a truta já pescada e até servida grelhada.

Quanto à questão dos imigrantes, um tema sempre tão acalorado entre Esquerda e Direita, deverão ser sempre bem vindos ao nosso país, independentemente da raça ou credo, desde que se procurem integrar no país e sociedade que escolheram para viver e trabalhar, respeitando a História e a cultura dominante, e naturalmente tendo direito a preservar a sua mas sem a impor. Quando assim não acontece, porque não querem e porque pretendem ter direitos adicionais ignorando os deveres, obviamente que o melhor que devem fazer é regressar aos seus países ou escolherem outro. Nada mais justo e equilibrado. 

Já agora, há uma fábula que dizem que pode conter um ensinamento quanto ao que pode diferenciar o pensamento de Esquerda ou Direita: 

A um activista de Esquerda pergunta-se sobre o que faria se fosse Primeiro-Ministro: - Ora, entre outras regalias sociais,  promoveria a entrega de subsídio de apoio social aos sem-abrigo e entregaria casa a cada um, ou com rendas simbólicas de 1 euro.

Em resposta a tão altruísta intenção: - Mas, então, não precisas de ser Primeiro-Ministro para fazeres isso a favor dos outros. Vamos fazer assim: - Vens a minha casa, cortas a relva do jardim, ajudas-me a plantar batatas, lavas o meu carro e no final eu pago-te 100,00 euros. Nada mal para um dia de trabalho. De seguida, como bom activista de Esquerda e com aspirações a Primeiro-Ministro, a seguir vais à procura de um sem-abrigo e dás-lhe esses 100 euros para ele poder comer, tomar banho e ir dormir a uma pensão. E na semana seguinte voltas a trabalhar e de novo voltas o oferecer o resultado do teu trabalho e esforço a um sem abrigo e assim sucessivamente. Combinado?

Moral da história: Provavelmente o amigo da Esquerda poderia, na boa, fazer isso uma vez ou mesmo duas, mas faria, três, quatro, cinco vezes, e por aí fora? Certamente que não, quando compreendesse que não poderia, de forma recorrente e indeterminada, estar a entregar aos outros o fruto do seu próprio trabalho e esforço. Provavelmente perceberia que seria mais fácil ajudar e incentivar o sem abrigo a procurar trabalho, levando-o consigo a cortar a relva, a lavar o carro e a plantar batatas, ou seja, a fazê-lo merecer os 100 euros em troco do seu próprio trabalho. 

Esta é uma questão basilar já que, entre pessoas que realmente precisam de ser ajudadas e apoiadas pelo Estado Social, por situações de doença ou incapacidade, por exemplo, há muitos que não querem nem gostam de cortar a relva, lavar o carro e plantar batatas. Para quê, pois, tentar pescar quando se espera que a truta seja servida de bandeja? Essa é a sua filosofia e a estes os ideais da Esquerda assentam que nem uma luva.

São, pois, interessantes todos os pontos de vista e valores associados tanto à Esquerda como à Direita, mas a prática diz-nos que nem tanto ao mar nem tanto à terra, até porque não existem sistemas perfeitos e completamente justos. 

Importará, pois, lutar pelo equilíbrio de ambas as ideologias, o que não é fácil porque há muitos que continuam a preferir ser servidos com a truta no prato, o que se compreende, pois há muitos que acham justo retirar uma truta a quem pescou duas para a distribuir a quem nada fez por pescar. Ora este conceito de combater a desigualdade é em si mesmo desigual, embora haja quem ache que não. 

Em ambos os lados do pensamento ideológico há oportunistas, em ambos casos gente que procura viver à custa do esforço dos outros, seja no papel de patrões e empresários, seja no papel de quem nada faz porque nada não quer fazer, tendo apenas como ocupação os expedientes e o chico-espertismo. 

Em rigor, quem trabalha, quem cumpre as suas obrigações, quem se esforça e dedica, é quem mais se "fode" porque invariavelmente está a contribuir para toda uma prole de oportunistas e malandros. Alguém que quer ter uma habitação própria, trabalha, paga empréstimos ao Banco, paga IMI, seguros, água, telefone, electricidade, etc. Quem quer ter habitação, mas à custa do Estado, paga, quando paga, rendas simbólicas, não paga IMI, não paga seguros, tem água, eletricidade e telefone com tarifas sociais e vai vivendo, se não "à grande", pelo menos "à francesa", sem preocupações nem responsabilidades.

Daí que a normalidade vá continuando a ser a "luta política" em que virão uns que darão a truta e outros que darão a cana e o anzol. Mas poderá vi o tempo em que já não haverá trutas, nem para oferecer nem para pescar.

Em rigor, já estamos nesse tempo. porque basta atentar no valor da nossa dívida pública para percebermos que há muito que andamos a viver à custa dos outros. Vamos pagando juros, pois vamos, mas será que algum dias vamos saldar a dívida?