Cá pela aldeia, temos todos, parece-me, uma estima e consideração especiais pelo Sr. Raimundo da Lama. Pessoalmente aprecio-lhe o seu lado de pensador e filósofo. Não que cursasse em grandes universidades mas licenciado com mestrado na universidade da vida.
Em todo o caso, logo pela manhãzinha ouvir dele o pensamento de que, "...esta vida é um martírio" e "esta vida está podre e contra-podre", não é animador. Bastaria o "está podre", mas aquele "contra-podre" tira todas as dúvidas.
O tema mereceria horas de discussão, mas, porque a caminho do trabalho, tive que apressar as despedidas e enquanto o tractor seguiu lentamente pela estrada fora, não pude deixar de meditar naquela sentença matinal.
A verdade é que as coisas andam mesmo meias podres. São as batatas na terra, os pêssegos nos pessegueiros, os tomates nos tomateiros e por aí adiante mas a podridão que falava o Sr. Raimundo não era da agrícola, coisa em que, de resto, até é especialista. A podridão anda mais pelas pessoas e pelos seus modos de vida. Notícias como a da detenção do "intocável" Berardo, o Joe português, que mesmo sendo caloteiro de centenas de milhões aos Bancos, diz com toda a lata perante deputados da nação de que "pessoalmente nada deve", fazem-nos estar alertas diariamente para este estado de coisas.
Estes artistas que vivem de burlas e esquemas que ludibriam os sistemas financeiros e económicos, e são tantos, como Sócrates, Ricardos Espíritos Santos, Luíses Filipes Vieiras, Rendeiros, e tantos outros, num desfile interminável, são de facto maçãs podres deste país, deste mundo, desta vida.
Mas o mais grave é que apesar de parecer que a Justiça anda atenta e que se fará, no final de contas, passarão todos ou quase todos impunes pelos labirínticos meandros da própria Justiça . No fundo estamos perante uma peça de comédia com ares de drama, apenas para entreter. Já o Zé Mexilhão, esse convém que não se atrase a pagar a prestação do IMI ou do IUC, porque leva logo por tabela.