Costuma-se dizer que o melhor prognóstico é aquele feito já depois do jogo, como quem diz, depois de se saber o resultado. Mas no que se refere à ainda fresca vitória de David Neves na eleição para a Assembleia da União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, encabeçando a lista do Partido Socialista, esta era mais que previsível porque assentava numa vontade mais ou menos generalizada e sentida de mudança e sobretudo de penalização face à prestação fraquinha do ainda em funções executivo do PSD, tanto mais que o cabeça-de-lista escolhido pelos sociais-democratas fazia (faz) parte desse executivo e como tal transportava para esta eleição uma herança de, tão fraca, difícil de justificar.
É certo que em rigor as listas deviam ser sufragadas em face dos projectos e propostas apresentadas para o novo mandato, bem como da qualidade dos elementos integrantes das listas, mas na prática todos sabemos que não é assim e o eleitorado em regra vota não pelo que é prometido mas pela experiência deixada. Ora se um executivo de um determinado partido governa com maioria e no final do mandato não conseguiu mostrar obras, melhoramentos e dinâmicas de proximidade e envolvência da população, de forma diferenciada e marcante, o mais certo é que a seguir na próxima eleição seja penalizado, mesmo que com equipa renovada e novas promessas. Com retoques e novas dinâmicas pode resistir por arames algum tempo, mas não para sempre.
Assim, este foi o contexto com que lidou na eleição de ontem a lista do PSD concorrente à nossa Assembleia de Freguesia e o seu cabeça-de-lista embora voluntarioso e determinado, como é seu timbre, não conseguiu fazer alterar o sentido de voto e de penalização que se adivinhava. Assim, como se costuma dizer, apanhou por tabela, por de algum modo ter responsabilidades na actuação do ainda actual executivo e por nele não ter sido capaz de quebrar amarras e fazer a diferença.
Era pois uma tarefa muito difícil e mesmo ingrata, convencer a maioria dos eleitores de que agora com ele a liderar a Junta, liberto de um presidencialismo egocêntrico e indeciso, é que ía ser. Depois, uma campanha baseada em algum folclore e não tanto no contacto cara-a-cara, não permite inverter ideias e sentidos de voto.
Pessoalmente estou convenciodo que caso viesse a vencer e a presidir à próxima Junta, o que nunca acreditei, o candidato do PSD seria, dentro do seu estilo e personalidade, um líder decidido, sem medos e receios, estes que tantas vezes tolhem e encurtam as decisões que fazem a diferença numa governação e por isso com um estilo mais positivo e mais próximo das pessoas. Não tenho dúvidas que faria um trabalho diferente para melhor. Porém, o eleitorado na sua maioria não lhe concedeu esse voto de confiança e como tal fica pelo caminho, tendo que resignar-se a chefiar a oposição num sempre difícil papel de minoria. Faltará saber se terá as capacidades de um discurso assertivo, estruturado e fundamentado para liderar a oposição e quiçá com isso colher frutos e preparar-se para o futuro daqui a quatro anos. Não parece plausível, até porque o não demonstrou no debate radiofónico, mas o futuro o dirá. Será mais um homem de acção e menos de discurso mas no papel de membro da Assembleia o que vale mais é a capacidade de argumentação.
Ainda quanto a motivos para o desfecho, é notório desde há alguns anos que o PSD em Lobão, ou pelo menos dele algumas facções, tem fracturas difíceis de resolver, tanto na própria freguesia como com a concelhia. Enquanto não se der um acerto de estratégias e de devolução da importância que as bases devem ter em qualquer partido, e com isso uma reunião de esforços com todos a remar para o mesmo lado, será difícil a cada acto eleitoral elaborar uma lista forte e coesa. Para o PSD é importante que isso se faça nestes próximos tempos de modo a preparar a coisa para daqui a quatro anos até proque com a irreversível saída do Dr. Emídio Sousa, por esgotamento legal de número de mandatos, o candidato será obviamente outro, mesmo que de há muito se vá adivinhando quem. Face a isso, adivinha-se um ambiente propício à mudança, pelo que, sim, é importante que o PSD reflicta no que acabou por acontecer na nossa União de Freguesias e nos erros que foram ou não cometidos, ou nas opções mal tomadas. Isto porque, naturalmenet a derrota não é só do cabeça-de-lista e seus acompanhante, mas de mais gente, mesmo de quem está agora de saída.
A conquista do David Neves, mais do que naturalmente pelo peso do PS, que no caso pouco contou para o totobola, até porque desalinhado aqui na União LGLG quanto ao que se passou no restante concelho, é sobretudo uma vitória pessoal, fruto da sua preparação, conheciemento do território, experiência em dirigir, persistência e determinação, mesmo com o ónus de duas anteriores eleições perdidas e durante dois mandatos no papel ingrato de fazer oposição face a uma maioria pouco dada a acolher propostas contrárias.
É, pois, merecida e justa a vitória do David Neves e demonstra que com uma oposição objectiva, determinada, clara e consistente, mesmo destoando de resto de todos os seus colegas de bancada, pouco ou nada interventivos, pode dar frutos a médio prazo com o reconhecimento do eleitorado. E só por isso é que se justifica e fundamenta a vitória do David em representação do PS num território tendencialmente pró PSD. De resto isso verificou-se nas eleições para a Câmara e para a Assembleia Municipal, que venceu Em grande parte e de forma similar ao que tem acontecido em Guisande em que um eleitorado predominantemente PSD tem dado vitórias a Juntas em representação do PS. Ou seja, há eleitores que conseguem ver mais além do que a clubite ou militância partidária, colocando as pessoas e projectos acima das cores e bandeiras. Não fora isso, essa capacidade de distinção, e naturalmente o David Neves teria perdido pela terceira vez.
Daqui a dias certamente tomará posse e passará a dirigir a Junta deste amplo território da União de Freguesias LGLG e terá desde logo que demonstrar que é totalmente diferente na sua abordagem à realidade de gestão de quatro freguesias distintas mesmo que açaimadas numa solução administrativa manhosa conjunta.
Vamos, pois, ter esperanças que de facto um novo ciclo e um novo futuro começarão. O fazer futuro, como dizia o slogan da campanha. Não será naturalmente fácil, porque não há milagres na hora de elaborar os orçamentos (mesmo que previsivelmente conte com um substancial saldo positivo, que não se gastou por inoperância no ainda actual mandato) e porque as necessidades são muitas, mas há, sim, mil e uma maneiras de abordar os diferentes aspectos da gestão e sobretudo com mais respeito pelas diferenças identitárias de cada uma das quatro partes bem como o cultivo do sentido de serviço e de proximidade e nunca com uma presidência com tiques de sobranceria, de egocentrismo e de algum revanchismo.
É, pois, a hora de remendar o que rompido foi e não faltam buracos para tapar! Espera-se e deseja-se que o David seja neste aspecto um bom alfaiate e que saiba cortar a fazenda nas medidas adequadas para que o fato nunca fique apertado ou largo, mas na medida certa.
Daqui a quatro anos será julgado e por isso há muito a fazer.