Vamos todos mostrando indignação pela escalada dos preços dos combustíveis em Portugal, que nos remete para os valores dos mais altos praticados na Europa, mas na realidade nada fazemos, e se amanhã houver eleições para o Governo, o PS e António Costa serão novamente eleitos, quiçá por maior diferença. Gostamos, pois, de apanhar tau-tau no rabinho.
De facto o Governo não tem dado sinais de abrir mão da escandalosa carga fiscal que cobra por cada litro de gasóleo ou gasolina e que dizem representar mais de metade do custo final. No caso, 56% sobre o gasóleo simples e 59% sobre a gasolina 95. Só no último ano e meio o preço aumentou 30%.
Ainda há dias ouvi dois elementos do aparelho do Governo a justificar que não iriam reduzir o preço do combustível porque isso seria incentivar o consumo de energias fósseis e poluentes quando o paradigma das alterações climáticas indica um sentido de redução das emissões poluentes e utilização de energias alternativas, limpas e renováveis, bem como ao uso dos transportes públicos.
Ora esta justificação é tacanha e absurda porque pretende alegar que todos os portugueses têm capacidade financeira para comprar carros eléctricos, que podem ir de bicicleta ou a pé ou têm um autocarro à porta para os levar ao trabalho. Isto é ainda um maior absurdo quando nos afastamentos do litoral e nos embrenhamos no interior em que os transportes públicos não existem de todo. E depois as empresas de transportes de passageiros e mercadorias? Onde é que ficam?
Em todo o caso importa tentar compreender um pouco esta situação dos combustíveis, do preço do gasóleo e da gasolina que mesmo sem os preços escandalosos de Portugal está a afectar muitos países incluindo grandes economias como a Inglaterra e a Alemanha. Tudo isto porque no contexto da redução das emissões poluentes, se têm desmantelado infra-estruturas de produção de energia baseadas no carvão e mesmo de energia nuclear sem que a oferta das ditas energias limpas cubra esse défice. Basta dizer que a Alemanha tem desmantelado centrais nucleares que representavam cerca de 30% das suas necessidades energéticas e ainda não conseguiu cobrir essa parcela com energia alternativa. É como deixar de usar lâmpadas na nossa casa e em alternativa termos apenas uma vela de cera à moda antiga.
Neste contexto de muito desacerto político que tem varrido a Europa, a relação de procura/oferta tem estado desequilibrada e daí, em grande parte, o crescente registo de aumentos nos combustíveis petrolíferos e da energia em geral.
Claro que todas estas políticas e jogadas económicas passam ao lado dos consumidores os quais são quem na realidade pagam todos os desaforos.
A manter-se este crescente aumento nos combustíveis e se o Governo não abrir mão da sua escandalosa margem fiscal, não surpreenderá a muito curto prazo o aumento dos bens, produtos e serviços bem como a insolvência e falência de empresas num efeito dominó.
A ver vamos mas a coisa está a carburar muito mal.