O lavadouro-fontenário de Cimo de Vila, aqui em Guisande, em certa medida é um exemplo concreto do desmazelo e laxismo a que foi votado por vários executivos de Junta, antes e pós União de Freguesias.
É certo que este equipamento público já não tem a importância que teve noutros tempos e já serve a poucos utilizadores, mas teve muita importância e como tal tem uma história social e patrimonial, e mesmo uma memória colectiva que importa preservar.
Como diria alguém, ainda sou do tempo em que o lavadouro estava diariamente ocupado por mulheres, tanto de Cimo de Vila como do Viso, a lavar roupa. A fonte, sempre de água fresca, abundante, generosa e imprescindível a muitas casas e famílias, num tempo em que não havia rede pública e os poços eram raros.
Para além de tudo, a água enchia a presa ao lado que por sua vez no Verão regava diariamente campos em grande parte poente do lugar de Cimo de Vila e ainda do Viso e Quintães. Tinha, por isso, consortes e alguns deles pagaram comparticipações às Juntas de então para ter acesso à água.
Mas depois os tempos mudaram e os hábitos também e por isso, face a uma menor utilização, o equipamento foi perdendo importância e literalmente esquecido por quem dele devia zelar com limpeza e manutenção regulares.
A agravar o retrato triste, vieram as obras de construção da Auto Estrada e a generosa nascente que alimentava a fonte noite e dia, foi puramente destruída. Claro que não foi garantida alternativa nem qualquer justa indemnização por parte dos responsáveis pela obra, ou se houve não entrou no cofre da freguesia.
Como alternativa a esta situação deplorável, porque lesiva dos interesses da freguesia e do bem público, a Junta de então, de forma espertalhona, fez uma ligação à rede que traz a água da nascente do Monte de Mó para o Monte do Viso, numa espécie de solução partilhada, mas com os inerentes problemas de distribuição quando em tempo de Verão e de maior seca a água é escassa e a ser reclamada em ambos os lados. Uma esperteza saloia que deveria ter sido mais esperta e acautelado de forma firme perante a empresa concessionária, exigindo-se a esta uma justa e natural indemnização, até para ressarcir os consortes.
Enfim, uma situação triste que desemboca, afinal de contas, no desmazelo e laxismo. Como cereja no topo do bolo, e apesar de vários e prévios avisos e alertas, que deram em nada, parece que a cobertura do lavadouro, construída pelos idos de 70/80, está com alguns problemas estruturais, com sinais notórios de desgaste, que importa resolver.
A ver vamos se com a nova Junta de União de Freguesias que entretanto tomará posse, o equipamento possa ser alvo de obras de requalificação com alguma dignidade, até porque parece que o agora futuro presidente da Junta da União por ali esteve em campanha a inteirar-se da situação.
Espera-se, por isso, um novo ciclo com mais respeito pelas coisas do património público e colectivo. E há tanto para fazer e remendar.