Por estes dias foi divulgado um estudo na "Menopause", a revista da The North American Menopause Society (NAMS), que sugere que comer sozinho pode contribuir para um maior risco de doenças cardíacas, sobretudo em mulheres mais velhas.
Com o objetivo de reduzir a incidência de DCV - doenças cardiovasculares, tem havido uma crescente consciencialização sobre hábitos alimentares saudáveis. Contudo, a importância de ter um companheiro de alimentação tem sido amplamente negligenciada em pesquisas anteriores. Ou seja, é importante que sobretudo nos mais velhos as refeições sejam em companhia.
De resto, sendo que em casa é normal o comer sozinho, sobretudo quando se vive sozinho, pois claro, é de facto estranha a sensação de se comer sozinho em restaurante, o que já experienciei. Não tanto em dias de semana, porque inerente ao ritmo ou circunstãncias do trabalho, mas sobretudo ao Domingo.
E vem esta conversa a propósito de uma situação que assisti ainda há poucos dias, num qualquer restaurante em Arouca, onde almoçava na companhia de alguém. De facto, bem no centro da sala, havia uma mesinha que só dava para uma pessoa e a mesma foi precisamente ocupada por um homem de meia idade, sozinho, sem companhia. Mas em rigor ele comeu, um bom cozido, acompanhado, não pela esposa, por um familiar ou amigo mas, imagine-se, por um pilar. De facto a mesinha ficava mesmo encostada a um pilar localizado no centro da sala.
Por isso, a propósito ou a despropósito, com aquela imagem, por momentos considerei que o homem estava a fazer uma refeição na companhia do senhor do pilar. E reparem que até há a Nossa Senhora do Pilar, a mais antiga invocação de Maria, Mãe de Jesus, a qual é venerada como padroeira da hispanidade na basílica com o seu nome, em Saragoça - Espanha. Segundo a visão da freira alemã Anna Catarina Emmerich (1774-1824), Maria, a mãe de Jesus, teria aparecido diante do apóstolo Tiago, quando este se encontrava em Saragoça, na Espanha, no século I. Nessa visão, Maria estaria envolta e sobre uma coluna de luz (daí o pilar) e lhe teria ordenado (ao apóstolo) a construção de um templo naquela localidade.
Como se vê, a imaginação dá muitas voltas e certas cenas ou imagens reportam-nos para outros factos, lendas ou memórias. Assim, aquele homem, aparentemente ali sozinho, deliciava-se com um bom cozido à portuguesa mas na companhia do senhor pilar, quiçá, interiormente, na companhia mística de Nossa Senhora que ali, como bom anjo da guarda, lhe fazia boa companhia, não podendo partilhar a refeição, é certo, mas certamente zelando para que a refeição lhe corresse bem, protegendo-o do azar de se engasgar com os ossos do chispe.
Há coisas misteriosas. Quem sabe...