Bem sabemos que as nossas televisões, incluindo a pública RTP, há muito que encontraram nos telefonemas de valor acrescentado uma mina onde podem garimpar uma substancial receita e pau para toda a colher. Daí que em programas ditos de entretenimento, tantas vezes de apenas "encher chouriços", abundem os pseudo-concursos, apenas com o claro intuito de angariar verbas.
Assim, no programa "Praça da Alegria" que na RTP entretém reformados e salas de espera até que chegue à hora do almoço, começou agora um pseudo-concurso designado de "Acordeão D´Ouro", que supostamente pretende premiar e encontrar o melhor acordeonista de quantos se inscrevem e participam.
Ora, a ter em conta o exemplo da primeira ronda de hoje, vê-se claramente que quem decide é o público e os seus votos-telefonemas, logo quem conseguir arrigimentar mais familiares, vizinhos e amigos e quem cativar mais popularidada e simpatia.
O verdadeiro saber, a meritocracia, são atributos que valem pouco ou mesmo nada. Assim, um qualquer zé cabra das teclas, especialista em dar uns toques, pode facilmente vencer um aluno de Conservatório, com técnica apurada e formação musical, desde que faça figura de bom e alegre rapaz.
É certo que existe um júri, desde logo com o profissional e competente Tino Costa, algarvio com mais de 50 anos de carreira, mas a televisão não quer que a coisa seja decidida por júris, por quem supostamente percebe da poda, e daí o povo é que decide com o seu voto telefónico. Podia lá ficar de fora?...
Neste contexto, um dias destes teremos o povo anónimo a votar em qual será o melhor foguetão para nos levar a Marte.
Portanto, quando se brinca com coisas sérias, a coisa não é para levar a sério. É pena, mas os modelos de negócio das televisões e dos média em geral não se compadecem com lirismos e coisas sérias.