Muitas vezes a História tem que ser reescrita ou actualizada à luz de novos documentos ou factos que possam surgir. Não é, pois, inédita, esta realidade, não só ao nível desta ciência que estuda o ser humano e a sua acção no tempo e no território, como mesmo nas outras áreas da ciência, nomeadamente na medicina, astronomia, etc, em constante actualização conforme o conhecimento vai progredindo.
Tudo isto para contextualizar os apontamentos que noutra altura por aqui publiquei a propósito da história da residência paroquial da nossa freguesia de Guisande.
Efectivamente, então à falta de outros documentos, fizemos fé no que foi lavrado na acta da reunião da Junta de Freguesia, em 21 de Outubro de 1923. No essencial, na acta referida, era dado conta da apresentação do novo pároco, Pe. Rodrigo José Milheiro, bem como o presidente da Junta informava que com a saída do antigo pároco Pe. Abel Alves de Pinho, por exoneração pedida por este, certamente por idade avançada, ao abandonar Guisande decidiu vender a sua habitação, suas pertenças e terrenos, em 11 de Outubro de 1923, ao Reverendo Joaquim Esteves Loureiro. Esta venda foi a título de recordação pela sua passagem pela freguesia de Guisande e com o objectivo claro de passar a ser a residência dos futuros párocos da paróquia de S. Mamede de Guisande.
No meu entendimento, como digo no referido artigo, a Junta considerou a venda como um benefício e a classificou como recordação pela passagem do Pe. Abel Alves de Pinho pela paróquia, pelo que só fazia sentido que a referida venda fosse a favor da paróquia, para nela funcionar a residência dos futuros párocos. Se fosse para a posse e usufruto de uma pessoa particular, não faria sentido a tal consideração da Junta. Presumi, por isso, que a venda terá sido simbólica ou, mesmo que formal, a favor do Paço e na condição do edifício permanecer ao serviço da paróquia como residência. Mas no pressuposto da construção pertencer particularmente ao Pe. Abel Alves de Pinho.
Neste contexto, mesmo que assente em presunção, tudo indica que o Rev. Joaquim Esteves Loureiro foi apenas o representante legal do Paço no acto da venda.
Em todo o caso, mais tarde, no Arquivo da Diocese do Porto obtive alguns apontamentos sobre o referido Pe. Abel Alves de Pinho e lá está escrita uma nota relacionada ao processo da residência paroquial.
Procurei saber mais factos sobre essa anotação e sobre esse processo mas, de forma estranha, foram-me recusadas mais informações. Nesse contexto conclui, comigo mesmo, que havia ali um qualquer mistério relacionado com a residência paroquial que não interessava (ao Paço) aprofundar.
Veja-se abaixo a nota sobre a "questão da residência".
Pois muito bem, por estes dias tive acesso a um importante documento, existente no acervo de velhos documentos da paróquia, e que é nem mais nem mesmo que o relatório das contas relacionadas á construção da residência paroquial de Guisande, que já a seguir se reproduz.
Este relatório é assim, sem dúvida, um importante documento que importa ser preservado e que, como todos os documentos e velhos papéis, trouxe uma nova luz à nossa história, neste caso à da residência paroquial de Guisande..
Para além de tudo, o relatório agora divulgado vem esclarecer muita coisa relacionada com a construção da residência paroquial, e desde logo o facto de que a mesma foi edificada e custeada pela freguesia.
Quanto à questão atrás levantada sobre a tal venda da residência pelo Pe. Abel Alves de Pinho, a mesma só pode ser compreendida e entendida como uma forma do edifício passar a ser pertença não da freguesia mas do Paço e como forma de assegurar a habitação como residência dos futuros párocos, como de resto aconteceu até à morte do Pe. Francisco Gomes de Oliveira. Não vejo, pois, outra explicação, sendo que a coisa poderá no futuro vir a ser melhor explicada e justificada. Em todo o caso, fica o mistério da Junta de Freguesia de então ter considerado a venda como "um benefício", se a mesma já era da freguesia. Intrigante, de facto.
Ainda da leitura e interpretação do relatório aqui em análise, emergem outras considerações como o facto de à data já existir uma anterior habitação, e daí a referência a "uma nova residência", bem como ainda da lista dos trabalhos se perceber que houve demolição da "obra velha" e certamente aproveitamento de alguns materiais da mesma, como pedra.
Oportunamente, já com mais documentos importantes relativos à questão da residência paroquial, que certamente farão luz sobre os seus contornos, darei continuidade a este assunto pois de tudo quanto foi dito e escrito, sendo que ainda há algumas suposições e existem várias questões que importa esclarecer e por conseguinte actualizar.
Voltaremos ao assunto.