Seja maldita esta verdade assim nua,
Mas a minha aldeia já não é o que foi;
Já não lhe rasgam leiras, arado ou charrua,
Esventrando-lhe a leiva o possante boi.
Aplanaram-se-lhe os caminhos fundos,
Alargaram-se-lhe as estreitas veredas;
Foram-se as gentes para outros mundos,
Já não há palha nem dela as medas.
Remexendo na distância das histórias
O sopro do tempo chegou em vendaval,
Dispersando a poeira das memórias
E para sempre nada mais deixou igual.
O tempo, esse ceifador de rosto antigo,
Devastou, insano, searas de fecundidade,
Colheu, indiferente, pasto, joio e trigo
E vive, agora, farto para a eternidade.
A.Almeida - 16012022