Num país politicamente correcto, que condena e até crucifica quem tenha uma postura ou linguagem de segregação, e que até tem uma disciplina de cidadania obrigatória, temos uma lei eleitoral no mínimo retrógrada e com particularidades que até deviam chocar.
Por exemplo, a idade da reforma está neste momento estabelecida em 66 anos e sete meses. Ou seja qualquer cidadão pode no mínimo continuar a exercer a sua profissão até essa idade e, não havendo norma que o proíba, para além dela, seja um simples varredor de ruas, um pasteleiro ou um capador de porcos, até um professor, um engenheiro, um médico ou um magistrado, etc, etc.
Todavia, nesta particularidade a todos os níveis condenável e injustificável, quem tiver mais de 65 anos não pode exercer a função de elemento de mesa de votos numa qualquer eleição de âmbito nacional.
O presidente da República, dita a figura mais importante do aparelho de Estado, pode ter 70, 80 ou mais anos e até ser um completo gágá. Todavia, o professor Marcelo que tem 73 anos, não fosse presidente desta republicana nação e não poderia estar atrás de uma urna a ajudar a enfiar os papelinhos ou a dar baixa dos eleitores. Parece anedótico mas a coisa é seria e a sério.
Por outro lado, com 18 anos uma pessoa poder ter carta de condução, casar, descasar, voltar a casar, e ser tudo e mais alguma coisa que se considere normal para quem é livre e de maior idade e no uso das suas faculdades. Mas não! Não pode, como o Tino de Rans ou outro, candidatar-se à presidência da República antes de ter 35 aninhos. Parece que com 34 ou 33 não tem todas as capacidades cognitivas para tão alto cargo da Nação. A bem dela, da Nação!
Custa a acreditar nestas coisas, num país livre e democrático em que a idade é factor de segregação para muitas coisas, até para aquelas que não têm qualquer sustentação racional, como as referidas. Só porque sim.