O revestimento da torre da nossa igreja matriz com azulejos terá ocorrido no ano de 1949. De resto, no painel de azulejos com a figura de Santo António, aplicado do lado nascente da torre, tem precisamente essa data inscrita.
Ainda como prova de que terá sido nesse ano de 1949, há nas papeladas da paróquia uma factura com a compra de outro painel, no caso aquele que representa a figura do nosso padroeiro, S. Mamede (na imagem acima), aplicado no lado norte da torre da igreja. De resto há ainda mais facturas da compra de outros quadros em azulejos, também colocados no revestimento da torre de que falaremos noutra ocasião.
Quanto a este painel, foi pintado a partir da imagem do nosso padroeiro conforme existente no altar-mor, como se pode comparar pela foto abaixo.
Como se verifica pela cópia da factura acima, a data da compra foi em 15 de Junho de 1949. Informa-nos ainda o documento que o quadro custou 650$00, o que era bastante dinheiro para a época.
Os azulejos e respectivos painéis foram fabricados e vendidos pela Fábrica Cerâmica do Carvalhinho, de Vila Nova de Gaia, na qual ao longo da sua existência saíram interessantes obras de arte de azulejaria portuguesa e de modo especial com motivos religiosos. De resto, todos os azulejos aplicados na nossa igreja, incluindo o interior e a fachada principal, foram fabricados pela respectiva fábrica.
No nosso concelho da Feira são inúmeros os locais que têm azulejos produzidas por esta emblemática fábrica, nomeadamente junto à arcada no Museu da Cortiça em Santa Maria de Lamas, mas também no seu interior.
Sobre a Fábrica de Cerâmica do Carvalhinho, a primeira instalação ficava situada no Porto, junto à Capela do Senhor do Carvalhinho, local que inspirou o nome da fábrica, pertencente à Quinta da Fraga, junto à Calçada da Corticeira.
A sua fundação ocorreu em 1840, por Thomaz Nunes da Cunha e António Monteiro Catarino, seus fundadores, ambos então com experiência no campo da cerâmica. Em 1853 a fábrica sofreu ampliações que lhe permitiram lançar-se, definitivamente, no campo comercial.
Em 1870 Castro Júnior, que é genro de Thomaz Nunes da Cunha sucede-lhe e toma os destinos da fase seguinte de fábrica. Na viragem do século e em conjunto com a fábrica das Devesas, a fabrica resistiu à transição atingindo mesmo um elevado grau de desenvolvimento industrial.
Os azulejos de parede foram produzidos, pela primeira vez, nesta fábrica que recebeu ao longo dos quase 140 anos de existência diplomas de mérito nesta área, constituindo o maior exemplo disso a própria fachada de azulejos da Fábrica Carvalhinho, no Largo S. Domingos.
No início do século XX, as fábricas de cerâmica portuguesas debateram-se com dois problemas: o surgir de produtos cerâmicos estrangeiros (Inglaterra e França); e o atraso tecnológico das máquinas utilizadas, comparativamente com as concorrentes.
Em 1906 a fábrica é ampliada. Renovou-se a parte técnica conseguindo-se alcançar melhor e maior produção, exportando para o Brasil e África os seus produtos em grande escala.
Seguindo modelos de fábricas de cerâmica da Alemanha e Inglaterra nascem as novas e modelares instalações da fábrica do Carvalhinho, dotadas do mais moderno equipamento tecnológico da época.
Em 1930 o sócio A. Pinto Dias de Freitas vê-se obrigado a, devido a grandes dificuldades financeiras, associar-se à Real Fábrica de Louça de Sacavém de grande prestígio na época e para onde se transfere a sede da Carvalhinho sob a direcção do Sr. Herbert Gilbert. Nesta fase a fábrica atingiu o que se considerou "a idade de ouro".
Depois da morte de António Dias de Freitas, em 1958, é nomeado Frederick W. Sellers para gerente da fábrica de Gaia em colaboração com Eng.º António de Almeida Pinto de Freitas, um dos filhos do anterior sócio, que acaba por retirar-se mais tarde devido a desentendimento com aquele gerente.
Em 1965 juntamente com um irmão, compra à fábrica de Sacavém a sua parte no capital da empresa.
Não são, no entanto bem sucedidos, estes dois irmãos, uma vez que contraindo enormes prejuízos, vêem-se obrigados a entregar a fábrica em haste pública ao Sr. Serafim Andrade.
Esta encontrava-se já numa fase de total decadência, acabando por encerrar definitivamente em 1977 perdendo-se, assim, uma das mais notáveis unidades de cerâmica do nosso país.