Eu sei que quase ninguém ouve estas coisas, mas ainda nesta semana, na rubrica "Palavras Cruzadas" na Antena 2 (e quem ouve a Antena 2, questiono?), Dalila Carvalho falava com Miguel Bastos, jornalista da RTP a propósito da vulgarização no uso da palavra, sobretudo na imprensa, em que por tudo e por nada se abusa da dramatização de certos termos quando porventura os mesmos se não justificam.
No caso, a palavra ou adjectivo "caos". A imprensa tanto a usa para se referir a um ligeiro engarrafamento no Porto ou em Lisboa, como com a uma situação vivida recentemente no aeroporto de Kabul aquando da fuga ao regime talibã, ou como consequência de uma catástrofe natural.
E é mesmo assim: o uso e abuso de termos ou adjectivos com impacto por tudo e por nada, até para situações de lana caprina, acabam por esvaziar o sentido dos mesmos e como na história de "Pedro e o Lobo", às tantas quando a mensagem ou a palavra se justificam, acabam por não surtir efeito ou ser encaradas de forma insensível.
Mas esta situação na nossa imprensa não é de todo surpreendente já que o falar bem e correctamente deixou de ser requisito. As redacções não querem profissionais idosos, grisalhos e a usar óculos. Gente nova, no geral impreparada em que uma certa burrice e ignorância são recorrentes, são quem povoam as redacções e nelas fazem falta os velhos mestres do verdadeiro jornalismo e do correcto e contextual uso da palavra. Na actualidade a força da palavra está na vulgarização de adjectivos dramáticos e sensacionalistas. Veja-se o caso do termo "arrasar" que é empregue por tudo e por nada, ao ponto de tornar-se um ridículo.
Mas é disto que a casa vai gastando e o escrutínio é quase inexistente porque de um modo geral a audiência está tão mal preparada e instruída quanto quem dá a notícia. Assim sendo...