16 de abril de 2022

Cuidado com o cão, ou talvez não.


Quantas vezes não rotulamos as pessoas com considerandos menos positivos mas que na realidade não correspondem aos seus verdeiros valores? Por conseguinte, nem sempre somos justos nessas apreciações de carácter. Mas também é verdade que algumas pessoas se comportam nem sempre de acordo com a sua verdadeira natureza: Se são maus como as cobras fingem ser bons, mas se são bons fingem ser maus. Outros, porém, não enganam mesmo, nem a si próprios nem aos semelhantes e mesmo à distância já se identificam. 

Neste contexto, algumas pessoas são como aquele cão que habitualmente vejo nas minhas caminhadas ao final das tardes, num certo sítio da nossa freguesia. O sinal afixado ao portão com o clássico aviso de "Cuidado com o cão" parece ter correspondência com o animal ali confinado dentro dos portões, sempre numa atitude raivosa como quem, com oportunidade,  quer marcar todos os seus dentes nas nossas nalgas, mas que, afinal poderá ser apenas fogo de vista. E isto porque um dia destes, dei com o tal cão, longe do seu território, à solta, mas que quando passei por ele, afinal nem fez chus nem mus, e pouco depois acompanhou-me durante uns trezentos metros como se eu fosse o seu dono, e mesmo na sua casa, com o portão escancarado, passou e andou não sem antes levantar a perna a marcar o território que, afinal, já era o seu.

Em resumo não lhe ouvi um único latido nem lhe vi um único dente e nem parecia o mesmo cão raivoso e barulhento dentro de portas. Ainda bem, porque se fosse perigoso à solta como preso, poderia dar mau resultado, para as vítimas, para o dono e para ele próprio.

Mas, antes assim. Afinal dispensava-se o tal sinal com o aviso "Cuidado com o cão", porque parece ter apenas um objectivo de bluff. Ali mora um cão raivoso mas que na verdade é um paz de alma.