Faz-me sempre confusão que algumas pessoas teçam elogios à paisagem e aos lugares, quando passam por elas e por eles a correr, apressados, com minutos contados e metas por destino. É, pois, um quase paradoxo, senão total.
Não poder ver ao longe uma torre de igreja a rasgar o verde, nem um ponto branco de uma capela a luzir na crista do monte, o apreciar uma flor, o pormenor e contraste de uma folha, ver um lagarto a absorver o sol, seguir com o olhar um pássaro a saltitar de ramo em ramo, ouvir o canto lamuriento, alegre ou impetuoso de um regato ou ribeira é tudo menos saborear a natureza. E nestas coisas não podemos estar com Deus e com o diabo. São incompatíveis e os meios termos são apenas pretextos filosóficos.
Quem engole apressado um prato de assado no forno, sem se deter nos pormenores que levaram a isso, desde o que esteve na origem daquele animal sacrificado para nosso deleite, o lavrar, o semear e o colher dos ingredientes, até ao saber e paixão de quem preparou, confeccionou e serviu, não pode simplesmente exclamar, de boca cheia - Isto está bom p´ra caralho! Quem assim procede está a passar pela vida demasiado apressado, sem se deter a questionar se aquele aroma e sabor é de tomilho, de hortelã ou alecrim..
Em suma, há coisas que só nos são plenas se absorvidas da mesma forma, cheia e intensa. O resto são cantigas de trovadores mal amanhados.