A malta irrita-se mas não há volta a dar. No geral falamos mal e escrevemos pior. Tenho-o dito e escrito, até de forma persistente, mas é tarefa ingrata, senão inglória, bem justificada pela máxima popular de que "lavar a cabeça a burros dá trabalho e gasta sabão". Mas prometo que vou continuar a gastar sabão, já que o sabonete é bem mais caro e só deve usar-se em cabeças de burros finórios.
Podemos todos ter mil e uma desculpas para esta nossa quase ileteracia, ou, bondosamente, azelhice, mas creio que todos, pelo menos de há meio século a esta parte, andamos na escola, tivemos as mesmas oportunidades de aprender. E os velhos professores, pouco ou muito ao contrário dos novos, até nem davam moleza nessa trilogia do saber ler, escrever e falar. Ah, pois, e as contas... Mas essas, as contas, são outras contas.
Por conseguinte, se não lemos, escrevemos e falamos bem, ou pelo menos benzinho, é porque disso nunca fizemos questão. Que importa trocar os "vês" pelos "bês", mesmo não se sendo tripeiro? Que importa saber se aquele pequeno fruto doce e sumarento é cereja ou cereija ou mesmo sereija? A quem interessa que não se deva dizer "houveram pessoas" em vez de "houve pessoas", porque o verbo "haver" é impessoal e só se conjuga na terceira pessoa do singular, nas frases em que o seu significado equivale a existir? Ainda, serão poucos os que se preocupam se forem pedir um"concelho" ao presidente do "conselho". O autarca até poderá nem dar pela troca desde que o munícipe lhe garanta o "boto". Ademais, se a coisa estiver amarga, adoça-se com açúcar ou "assucar", com ou sem "acento" porque o "assento" dá jeito ou "geito" quando estamos cansados desta conversa, ou será "converça" ou mesmo "comberssa" ? Estamos conversados ou pelo menos "comberssados".
Mas como somos bons nas desculpas, desculpamo-nos sempre. Como diz o bom português, principalmente o que escreve mal, "não é por isso que não nos entendemos!" Pois não! E se assim nos entendemos, "bora lá, a continuar a escrever mal!" e se nos servir de consolo ou "conçolo", não estaremos sós nesta demanda. Esta do "bora" usada por tudo e por nada, quase parolamente, também dá que falar e dará pano para mangas.
Em resumo, alguns de nós leem jornais, outros livros, outros ambos, mas, no geral, e sempre não generalizando, a maioria não lê uns nem outros e muito menos com a preocupação de aprender ou reaprender. Ora quem não lê nem escreve de forma rotineira e interessada, não exercitando, dificilmente fala, lê ou escreve bem. Vemos muita malta a correr e a saltar com frequência, "para manter a forma física", o que é positivo, mas já quanto ao "manter a forma" a ler e a escrever, esquece ou mesmo "esquesse". Somos muito esquecidos ou "esquessidos", talvez devido ao "eixesso" de "keijo".
Para além de tudo, mesmo, lendo e escrevendo mal, somos também uns mestres no uso e aplicação de estrangeirimos, sobretudos os anglicismos, empregando-os por tudo e por nada. Como exemplo, é ver o que por aí vai no mundo dos eventos e provas desportivas: Eles é run, trails, trophy, challenge, etc. Se não tiver um nome ou uma designação em inglês, a coisa não será fixe porque "démodé". Voilá!
Last man standing! I'm out!