16 de setembro de 2022

Gente nossa - O José Almeida está de parabéns!



Porra! Anda um homem a escrever coisas bonitas e sentidas para os de fora e não as há-de escrever sobre alguém da família? 

Mas olhem que não é fácil, porque nestas coisas de enaltecimentos, os famíliares são sempre os mais poupados, não porque esquecidos ou menosprezados, mas um pouco como o pai do filho pródigo no tratamento para com o seu primogénito: - Filho, tu estás sempre comigo, e as minhas coisas são as tuas!

Mas a verdade é que esta parábola é mesmo difícil de mastigar, ao alcance  de poucos na sua aplicação, mas por isso, por quase impossível ao entendimento pelos olhos da nossa frágil humanidade, é que Cristo a contou como exemplo. Mas, retomando, nestas coisas de falar dos outros, estes são os filhos pródigos e os da casa, os filhos mais velhos. Creio estar desculpado ou pelo menos justificado.

Mas, hoje, a propósito do seu aniversário, e nem importa saber quantos, quero dar uma palavrita ao José Almeida, meu primo por parte dos nossos pais, o meu, o António, o dele, o Joaquim.

O José Almeida, o Zé ou o Zé da Glória, está naturalmente mais mole porque com o peso dos anos, os ensinamentos da vida e as artimanhas dos ossos. Mas mesmo que ainda com uns arrebates dos velhos tempos, já não é o que era de impetuoso, e por isso para melhor. Tinha um temperamento de mar do norte, ora calmo e sereno, ora a levantar ondas e tempestades. A bem dizer, fervia em pouca água, mas com a particularidade de apenas quando sentia que estava a ser desrespeitado ou desconsiderado.

Perdoar-me-á, mas só para atestar esta fácil fervura, partilho um episódio testemunhado na primeira pessoa: Houve uma altura em que o acompanhava à lota a Matosinhos onde comprávamos peixe congelado. Ao chegar, no parque de estacionamento estava ali um lugar disponível, mas ele precisava de dar a volta com a sua carrinha e então pediu-me que ficasse a guardar o lugar enquanto manobrava. Assim fiz, mas entretanto chega de rompante um chico-esperto, que mesmo contra a minha indicação de que o meu primo já ali vinha estacionar, ignorou e estacionou. Pois, bem! Ali chegado e posto ao corrente, o meu primo enfrentou o tipo com impropérios, sacou de uma espécie de bacamarte de partir queixadas, que tinha algures na carrinha, e o condutor espertalhão, perante aquela tempestade vulcânica não teve outro remédio senão, com o rabo entre as pernas, esgueirar-se a ir procurar abrigo. É que se não fosse isso, e a propósito do local, ele iria apanhar umas valentes solhas, congeladas, porque mais duras. Mas felizmente, a coisa resolveu-se, senão iria ser ali uma peixeirada. E num instante o Zé já estava outra vez envolto em bonança, calmo, sereno, a encher a carrinha de peixinho do mar do norte.

Mas apesar desta sua característica, o Zé é uma pessoa com uma enorme bondade e disponível para ajudar. É certo que esse seu temperamento por vezes dificulta as coisas, para ele e para quem com ele convive, mas, porra, quando um homem se sente com razão, não há força que o cale! Fosse a jogar uma sueca, a ver ou ouvir um jogo do seu Porto, convinha não agitar as águas com o Zé.

O José tem uma vida pacata e certinha, que vive ao lado da sua Adelaide de sempre, boa e fiel companheira, mesmo a aturá-lo na fervura. Bom marido, bom pai, e bom avô. Criou filhos e já com netos, e creio que bisnetos. Casou cedo, porque apesar de viver numa família onde nada faltava, tinha uma educação austera e por esses tempos as mãos maternas, porque calejadas, eram pesadas. Assim casou novo e e a lua-de-mel não tinha aquecido e já marchava para o serviço militar em África. Depois emigrou para França, regressou, trabalhou na Câmara Municipal da Feira e, finalmente, na merecida reforma, já há uns anos.

Mesmo com esse seu tal feitio que não é defeito, foi sempre participante da vida comunitária, exercendo, e bem, a sua quota parte de cidadania. Integrou corpos directivos do Guisande F.C., fez parte da política, do associativismo, até do Grupo Coral, e desde há alguns anos que é ministro da Comunhão cá na paróquia. Não se pode exigir mais. Há quem, literalmente, nunca tenha mexido uma palheira pela terra e pela comunidade.

Por tudo isso, e bastaria o ser gente, tanto mais boa gente porque familiar, faço votos de um feliz aniversário e que por cá ande muitos mais, mesmo que de vez em quando chateado com os ossos. É a vida!

Parabéns, primote, e desculpa qualquer coisinha por te expor assim publicamente!