Eis-me aqui, todo em pleno mar,
Sem farol a guiar a porto seguro,
Sem barco, sem âncora, nem bóia
Em água temerosa.
Fugi, perdi-me para me encontrar,
Mais livre, solitário, mais puro,
Como quem busca tesouro ou jóia
Mais rica, valiosa.
Talvez nesta imensidão ondulante,
Espelho da negrura da alma e céu,
Eu encontre uma rocha firme, a fé,
Que me resgate desta morte certa.
Serei então um solitário mareante
Digno, sereno, despojado de labéu,
Um novo e renovado homem Crusoé
No reencontro da ilha deserta.
Eis-me aqui, náufrago em verdade
Já com fundada, renovada esperança,
Porque passada a dor, a tempestade,
Ressurge a doce e vindoura bonança.
Eis-me aqui, vivo, já fora do mar,
Seguro, mesmo que a noite caia,
Porque um homem pode naufragar
Mas dará sempre à sua praia.