Confesso que não me apetece reflectir de forma profunda sobre isso, nem colher ou muito menos dar lições de moral, mas parece-me uma pura constatação de que os nossos jovens quase nunca participam em cerimónias fúnebres, excepto aqueles por questões circunstanciais especiais, desde logo os que pertencem à família dos que partem.
Mas se esta é uma realidade quanto aos jovens, também se nota que dos nossos adultos dos cinquentas para baixo, poucos ou nenhuns se veem num funeral ou mesmo numa missa de sétimo dia, mesmo que a um Sábado ou a um Domingo.
Não são, por isso, sob um ponto de vista moral, nem mais nem menos que os demais, mas que se nota, nota.
Tenho, naturalmente, algumas razões que me parecem justificar esta realidade, mas para o caso pouco importam. Mais que um mero desrespeito, que não é, ou desinteresse por quem parte ou por quem da família fica e sofre as dores do luto, há sobretudo um comodismo, uma indiferença quase generalizada. E isso porque em grande parte as pessoas já não se conhecem numa perspectiva de comunidade. Cada um leva a sua vidinha sem grandes rasgos de vivência fora de portas ou do círculo restrito da família chegada. Cada um está por si, pelo que quando morre o Ti Manel ou a Ti Maria, mesmo que da vizinhança, ninguém sabe, ninguém conhece ou não quer saber.
É certo que tantas vezes os funerais são marcados para horas impróprias e inadequadas para quem trabalha e tem responsabilidades. Eu próprio, por isso, acabo por não participar em alguns funerais, com pena, mas procuro sempre que posso e logo depois, transmitir pessoalmente os sentimentos aos familiares mais próximos.
Em todo o caso, há sim, porque é notório e evidente, um desinteresse generalizado, e não espanta, pois, que ninguém deixe de fazer o que tem a fazer, mesmo que no domínio do recreio e lazer, para ir participar comunitariamente nas cerimónias de despedida de algum dos dos nossos que partiu e para, de algum modo, ajudar a mitigar a dor dos familiares nesses momentos de tristeza e pesar. Quem passou por elas, sabe que é reconfortante um apoio da comunidade.
Mas é o que é e não há volta a dar. Estas coisas vão neste sentido e não tardará, daqui a mais duas ou três gerações, desaparecidos os actuais mais velhos, que um qualquer funeral seja um mero frete reservado apenas à participação e responsabilidade dos familiares, e nem todos. Cada um por si. A indiferença ganha campo.
Adeus, comunidade solidária! Descansa em paz!