Quase sem saber como, certo é que num espírito de dar algum contributo, aceitei fazer parte do COP - Comité Organizador Paroquial, no âmbito da preparação e organização da Jornada Mundial da Juventude que decorrerá em Lisboa na primeira semana do mês de Agosto deste ano de 2023.
Uma das acções a desenvolver relaciona-se com a vinda de jovens de todo o mundo, sobretudo da Europa e que na semana anterior à Jornada terão uma experiência integrada nas diferentes dioceses e paróquias. Assim, um dos pressupostos base é que esses jovens, pelo menos em grupos de dois, rapazes ou raparigas, possam ficar alojados durante a última semana do mês de Julho em contexto de famílias ditas de acolhimento. Será uma oportunidade para partilha de diferentes aspectos, incluindo os culturais e sociais tendo como base os pressupostos da Jornada Mundial da Juventude.
Neste contexto, preveem os organizadores que a paróquia de Guisande possa também acolher alguns dessses largos milhares de jovens que acorrerão a Portugal, havendo uma estimativa de que pelo menos meia centena, o que significa que serão necessárias pelo menos 25 famílias dispostas a fazer o acolhimento.
Esta situação já tem sido divulgada e feitos apelos a esta necessidade em várias ocasiões e desde há largas semanas, nomeadamente pelo nosso pároco nos avisos no final das missas, mas parece-me que, tirando um ou outro caso, ainda não há situações concretas. Ou seja, parece óbvio que esse apelo e essa necessidade têm caído em saco roto. Assim, o COP entendeu que será necessária uma melhor divulgação do evento e dos requisitos e necessidades para uma família de acolhimento e depois partir para convites directos a algumas delas e que se consideram, à partida, como com condições de acolhimento. Ou seja, convirá que sejam famílias com alguma disponibilidade de tempo e sem compromissos de emprego ou de outra natureza, pelo menos com um quarto de dormir disponível, uma casa de banho que possa ser partilhada e ainda fornecer pequeno almoço e jantar, mesmo que de forma frugal.
Pessoalmente, mesmo comprometido com essa decisão tomada de, se necessário for, abordar as famílias de forma directa, não sou, todavia, muito apologista da mesma, porque entendo que nestas coisas as pessoas e as famílias devem demonstrar por iniciativa delas própias essa vontade de forma livre e não de maneira influenciada ou mesmo pressionada. Bem sabemos que no nosso meio as pessoas não são muito de se expor e de se oferecerem voluntariamente seja para o que for, mas não podemos inverter esta nossa natureza. Ou há ou não há vontade e voluntarismo. Esta é uma nossa maneira de ser muito cultural e assenta também em pressupostos de fugir a canseiras, compromissos e responsabilidades. De facto, mesmo sabendo que não será nada de mais garantir esse alojamento a dois jovens durante uma semana, o certo é que implica alguma responsabilidade e naturalmente alguns custos e mesmo abrir as portas a pessoas desconhecidas e que na maior parte dos casos haverá nítidas dificuldades de comunicação, tanto mais que o perfil das famílias com condições de acolhimento será de pessoas já na reforma e por isso com menor domínio de línguas estrangeiras. Além do mais, serão sempre pessoas estranhas e dos muitos milhares de jovens que virão a Portugal naturalmente que nem todos serão propriamente modelos de bom comportamento e cumpridores de regras de respeito e reconhecimento. Há, pois, alguns riscos ou pelo menos situações a merecerem algum cuidado e preocupação.
Em resumo, oxalá que na nossa paróquia se consigam pelo menos as tais 25 famílias para alojar 50 jovens mas pessoalmente estou muito pessimista e parece-me que já será difícil conseguir metade desse número. Reitero ainda a opinião pessoal que as pessoas devem ser devidamente esclarecidas quanto ao que se pretende, ao propósito e ás necessidades, mas não a ponto de as pressionar na decisão.
Posto isto, será bom que as famílias sejam elas próprias a avançar e a oferecerem o acolhimento num contexto de partilha e acolhimento cristão e numa perspectiva de que poderá ser uma semana de enriquecimento mútuo para quem recebe e é recebido. Afinal, uma comunidade cristã tem a obrigação de ter este espírito.
A ver vamos!