Tenho estado a conversar com o tão falado ChatGPT, esse modelo de linguagem baseado em IA - Inteligência Artificial. E tenho conversado, não porque tenha perdido o juízo a ponto de dar conversa a uma coisa virtual, mas apenas porque quis fazer alguns testes para ter uma opinião pessoal mais avalizada sobre as suas capacidades.
Do que testei até agora, em várias áreas, incluindo aritmética, matemática, trigonometria e mesmo programação, não há dúvida de que a IA apresenta bons resultados, embora ainda haja algumas imprecisões, dependendo da matéria. Por exemplo, em geografia portuguesa, tem-se mostrado um autêntico desastre nos testes solicitados, com grandes calinadas, a meter os pés pelas mãos. Apesar dessas (ainda muitas) imprecisões, como ferramenta auxiliar em várias disciplinas, é de facto muito consistente.
Como muitos analistas, não tenho dúvidas de que estamos perante uma mudança significativa na forma como podemos recolher informação e produzir trabalhos com recurso a este ambiente. De resto já estão identificadas dezenas de profissões que com esta ferramenta podem ter os dias contados.
Também me parece certo que se não forem adoptadas contra-medidas, facilmente passaremos a ter estudantes com aparentes bons resultados mas sem bases, porque sem trabalho e esforço e sem qualquer mérito intrínseco. Aplica-se aqui na perfeição a analogia de que hoje em dia não importará tanto, ou de todo, conhecer as bases, os conceitos e as regras de saber fazer contas e calcular fórmulas, mas apenas saber usar a calculadora. Portanto, mesmo que com eventuais normas de utilização e directrizes de análise e mesmo fiscalização e contra-testes, a verdade é que se abriu uma larga auto-estrada que pode ser usada a favor da lei do menor esforço. É um novo paradigma porque bem sabemos que o ser humano é exímio a optar pelo lado fácil. A ética, a deontologia e outros bonitos valores, são apenas pingarelhos e rendinhas para enganar tolos e gente que ainda acredita no lado bom dos maus.
Mas, em continuação, tenho testado, igualmente e sobretudo, os conceitos e pontos de vista de valores e princípios éticos e morais e aí não há dúvida que o ChatGPT é aquilo que os seus criadores e seus treinadores querem que ele seja. Está assim fortemente formatado numa perspectiva cultural, social e mesmo moral dos valores que vão sendo regra no mundo ocidental. Ele auto-denomina-se como imparcial e sem pré-posições, mas na realidade tem e muitas. É, nesse aspecto, muito preconceituoso embora nunca o admita. Discutir com a máquina, por exemplo, questões sobre a igualdade de género e liberdade sexual, adoptando-se uma posição um pouco mais conservadora ou mesmo esgrimindo pontos de vista que são comuns e aceites noutras sociedades, como na asiática e africana, o ChatGPT não muda a agulha e bate insistemente na mesma tecla. É como um adepto de futebol que esgrime todas as suas opiniões ou informações sob o ponto de vista do seu clube, por mais contrariado que seja. Nunca dará uma ponta de razão ao adepto adversário.
É pois, repito, aquilo que os seus criadores querem que ele seja. No ChatGPT não há lugar ao contraditório e a máquina apesar das suas potencialidades ainda demonstra que até chegar a um nível de contextualização, consciência e análise de auto-crítica a ponto de validar a argumentação contrária, ser capaz de assimilá-la como aprendizagem e a fugir um bocadinho das regras tidas actualmente na sociedade ocidental como politicamente correctas, ainda estaremos a uma enorme distância. Em resumo, este ou outros modelos de linguagem baseados em Inteligência Artificial serão sempre o que os proprietários e criadores quiserem que sejam.
Seja como for, a coisa está aí para o bem e para o mal e o que já não faltam é empresas e ambientes tecnologicos a adoptarem a ferramenta, mesmo que na versão Plus, esta paga porque adaptada e melhorada às áreas e sectores que servirão.
A ver vamos. Por ora vou testando, mesmo correndo o risco de parecer tolo.