21 de maio de 2023

Modernos Calabotes

Volta e meia os adeptos portistas ressuscitam o antigo árbitro de futebol, o alentejano Inocêncio Calabote a propósito de um jogo da última jornada do Campeonato de Futebol da 1.ª Divisão da época 1958/1959 em que alegadamente procurou ajudar o Benfica a ter um resultado frente ao G.D. da CUF que lhe permitissse ser campeão a desfavor do F.C. do Porto. O pecado foi o assinalar de 3 penalties a favor do clube da Luz, ter começado o jogo 6 minutos para além da hora marcada e de ter concedido à volta de 10 minutos de tempo de descontos. 

Certo é que mesmo nessas circunstâncias o resultado de 7-1 não serviu de nada ao Benfica pois na mesma última jornada o F.C. do Porto venceu o Torreense num jogo igualmente polémico, com expulsões na equipa ribatejana e com o golo decisivo a ser marcado nos últimos segundos, pelo que se sagrou campeão.

Apesar disso, apesar da imprensa da época ter admitido que os 3 penalties foram normais e que até ficou por marcar um mais óbvio a favor dos encarnados, admitido pelo próprio treinador adversário, o Calabote ficou com essa má fama e o Benfica sem qualquer proveito.

Mas a história tem sempre o seu karma e no jogo de ontem entre o Famalicão e o F.C. do Porto, igualmente decisivo para manter a esperança acesa, a equipa azul-branca venceu por 4-2, sendo que três dos golos foram marcados de penaltie e um deles mandado repetir depois de o seu cobrador ter atirado ao centro da baliza direito ao guarda-redes, tão somente porque um jogador da equipa da casa terá posto o pé na área antes do castigo ser cobrado. Um preciosismo regulamentar porque tantos e tantos que são validados nessas circunstâncias ou mesmo com os guarda-redes a avançarem antes do tempo.  Por outro lado, como se isso não bastasse, o jogo teve quase 15 minutos de tempo de descontos. Ufa! Quem começasse a ver o jogo nessa altura na televisão e não tivesse qualquer informação, pensaria que o jogo estaria a ser decidido em prolongamento e depois em pontapés da marca da grande penalidade, como se fora uma qualquer final.

As coisas são como são e como nós queremos que sejam. Mas, independentemente da justeza do resultado e da boa ou má análise dos penalties a favor dos portistas, pelo menos dois muito subjectivos de análise, face a esta situação o caso do Calabote até parece uma anedota.

Agora se o Benfica se quiser ser campeão, o que ainda continuo a duvidar apesar de lhe bastar vencer um dos dois jogos em falta, um deles em casa na última jornada com o Santa Clara, penúltimo classificado (à hora em que escrevo) e já em situação de descida de divisão, tem mesmo que fazer pela vida porque se estiver à espera que o Porto escorregue, que espere sentado, porque isso não vai acontecer nem que tenha que ganhar um jogo com 6 penalties e 20 minutos de descontos. E na última jornada dos dragões esperam-se mais penalties para o Taremi juntar à carrada deles que já contabiliza. Nesta de penalties a favor, o Porto dá uma cabazada na concorrência. Tem que defender o estatuto que detém na Europa.

Bom Domingo e divirtam-se, porque o futebol não é para levar a sério, mesmo que os modernos calabotes ainda andem por aí.

Divirtam-se