7 de junho de 2023

Festa do Viso de 2004 - Ponto de viragem


Este cartaz refere-se ao ano de 2004, em que fiz parte da Comissão de Festas, que teve a seguinte equipa (falta um elemento masculino que não assumiu):

Carlos da Conceição Santos – Fornos
Américo da Fonseca Gomes de Almeida – Casaldaça
Vasco Filipe da Mota Monteiro – Barrosa
Nilza Fernandes da Silva – Fornos
Mónica Joana Pintos dos Santos 

Este cartaz de 2004 foi elaborado graficamente pela própria Comissão e impresso na gráfica onde então trabalhava o Vasco Monteiro. Esta situação foi inédita pois até aí as comissões de festas reuniam os elementos e todo o trabalho de grafismo e composição era entregue à gráfica. Foi, pois, neste aspecto também um ponto de viragem, já que nos anos seguintes, mesmo que nem sempre, começou a haver um cuidado na parte estética dos cartazes e com alguns deles a serem tratados com cunho pessoal das comissões ou por alguém por eles solicitado. Também se começou a incorporar o elemento de logotipo associado a cada edição.

Esta edição de 2004, sem falsa modéstia, teve um excelente programa, diversificado e porventura com a participação do artista de maior renome de todos quantos desde sempre têm vindo à nossa festa. De facto José Cid é uma figura por demais reconhecida no nosso país e mesmo internacionalmente e com uma longa carreira e sucesso que dispensam grandes apresentações. Importa também referir que a sua contratação foi feita directa e pessoalmente com a Comissão de Festas, por isso sem qualquer intermediação de agentes. Pessoalmente com o Carlos Santos, juíz da festa, fomos a Mogofores ao palacete do artista onde ali assentamos o contrato, bem como ainda o do então muito prestigiado fadista Paulo Bragança, recomendado pelo próprio Cid.
Resulta desta situação que nesse ano de 2004 toda a contratação de artistas, bandas e ranchos foi trabalho directo da Comissão de Festas, de que decorreu naturalmente uma grande responsabilidade mas também alguma independência nas escolhas já que é sabido que os agentes procuram colocar ou vender artistas tantas vezes como gato por lebre para além de naturalmente acrescerem as suas margens de lucro.

De referir que apesar de não constar no programa o dia 30 de Julho, Sexta-Feira, houve festa com sessão de karaoke e oferta de sardinhada. Comeu-se e bebeu-se de borla, como agradecimento da Comissão de Festas à comunidade.

Para além da oferta de sardinhada na Sexta-Feira da festa, caso inédito na festa de Guisande, por exigência de José Cid, foi instalado o maior palco até então. Também pela primeira vez recorreu-se a um gerador para garantir a potência eléctrica necessária. O fogo de artifício superou tudo o quanto até ali se fazia e não me recordo de nas edições seguintes ter sido superado em diversidade e duração.

A festa contou ainda musicalmente com a presença de duas bandas filarmónicas, o que já não acontecia há várias dezenas de anos, vindo actuar a Sociedade Musical Vouzelense - Vouzela  e  a Filarmónica Boa Vontade Lorvanense, de Lorvão - Penacova, cujos almoços em restaurantes da zona foram suportados pela Comissão de Festas. Foi desde essa data que se inicou a tradição de arruada, tocando em diversos pontos da nossa freguesia. Creio que no ano ou dois anos seguintes ainda se conseguiu trazer duas bandas mas depois voltou-se à forma económica de apenas uma banda.

A Comissão de Festas tomou ainda a seu encargo o enfeite de vários andores, que de outro modo não sairiam à procissão.

A qualidade do programa estendeu-se ainda a três ranchos folclóricos, dois deles prestigiados do Alto Minho, o Rancho Regional das Lavradeiras de Carreço - Viana do Castelo e o Grupo Folclórico de Santa Marta de Serdedelo - Ponte de Lima, e da nossa região o excelente Grupo Folclórico de S. Miguel de Azagães - Carregosa - Oliveira de Azeméis. 

Perante esta qualidade, a comunidade colaborou de forma condizente, aumentando significativamente a oferta e no final ainda resultou um excelente saldo positivo que foi entregue à Comissão Fabriqueira para o aplicar na capela quando entendesse ser necessário. Recorde-se que em 2004 a capela havia sofrido obras de vulto pelo que não havia necessidade imediata de ali fazer mais despesa.

A edição de 2004, em pleno ano do Europeu de Futebol em Portugal, mostrou que era possível realizar-se uma festa com muita qualidade artística, sem um centavo de apoio da Câmara Municipal, apesar de ter sido solicitado pela componente cultural da vinda de duas bandas filarmónicas. 
O êxito da festa nos seus diferentes aspectos resultou sobretudo do trabalho, espírito de equipa e envolvimento da comunidade. 

De algum modo esta edição tornou-se modelo e ponto de viragem para as festas seguintes. Pena que de há alguns anos para cá, com óbvias dificuldades económicas e com os patrocinadores a reduzirem-se e menos generosos, apesar da dedicação das comissões de festas com várias iniciativas ao longo do ano para angariação de fundos, a qualidade geral no programa musical tem decaído. Já não se contratam duas bandas filarmónicas e invariavelmente está de serviço a Banda de S. Tiago Lobão e de quando em vez a Marcial do Vale. São boas bandas mas convenhamos que sempre a mesma receita desincentiva. Mesmo a diversidade folclórica é pouca ou nenhuma, quase sempre com os mesmos ranchos da vizinhança, quando o que não faltam por aí é bons ranchos de outras regiões do país, desde logo e à cabeça pela fama a prestígio, os ranchos do Alto Minho.

Em resumo, a festa de 2004 teve muitos aspectos positivos, pioneiros e marcantes e tornou-se de facto um ponto de viragem e acréscimo de qualidade da nossa festa de Guisande como uma das mais importantes no concelho, situação que durou vários anos. Como já ficou dito, parece-me que as últimas edições, sem desprimor porque com contextos de dificuldades, cairam em muito na qualidade geral, mesmo realçando a competência e dedicação das diferentes comissões de festas. Talvez porque a fasquia tivesse sido colocada demasiasdo alto em edições anteriores tendo em conta a realidade da nossa freguesia e porque os apoios são cada vez menores, mas é a realidade. 

Importa, pois, preservar e procurar manter a tradição de pé e sempre que possível de forma prestigiante para a nossa comunidade. E no geral, mesmo que nem sempre com muita qualidade, isso tem sido conseguido. Mas importa manter o estatuto e isso não se consegue contratando sempre os mesmos ranchos vizinhos e a mesma banda filarmónica e introduzir conceitos novos como DJs e supostos comediantes a debitarem umas caralhadas e que em nada acrescentam de valor artístico numa festa com as características da nossa.