Não sou, de todo, rico. Como a maioria dos portugueses, vivo do trabalho para sustentar-me e à família, para pagar as contas do mês e os altos impostos. Fosse rico, e naturalmente que poderia ajudar mais e muitos, mas apesar disso, apesar de ainda continuar a pagar crédito à habitação, serviços de água, esgotos, electricidade, telefone, televisão, internet, seguros de carro, seguros de vida, seguros de casa, seguros de saúde, taxa de audiovisual, comissões bancárias (roubos), IMI, IRS, IVA, imposto de combustíveis, impostos de tudo e mais alguma coisa, procuro ter ainda um restinho que me permita ajudar uma ou outra causa.
Ainda há poucos meses, no contexto da venda do meu livro, foram 250 euros para a Unicef para mitigar os seus apoios às crianças da região do corno de África.
Mas isto de dar e ser generoso, mesmo que um bom princípio cristão, nos dias que correm tem os seus quês, porque, é sabido, à porta de quem dá são mais que muitos os pedientes. E pedem os que precisam e os que não precisam, os que envergonhadamente e os que de forma descarada e recorrente. Por isso, no pensamento de quem pede e recebe, está a ideia de que quem dá uma vez dá duas ou três, ou as vezes que se pedir. Às portas de quem diz não, por vezes ainda com um sermão ou pedra na mão, muito dificilmente alguém bate uma segunda ou terceira vezes.
Ora isto é verdade para o habitual pedinte que toca à campaínha como é para as instituições e entidades. No caso da UNICEF, apesar de já ter feito donativos de várias centenas de euros e em várias ocasiões, acaba por ser a entidade que mais pede, e via online ou por correio, como ainda hoje, os seus pedidos são recorrentes.
Desta feita, traz-nos o caso de crianças como Aysha, de 13 anos, que vive em Afar numa região remota da Etiópia, que sai de casa todos os dias bem de manhã cedo, com o seu camelo, para uma viagem de ida e volta que demora 9 horas para ir recolher água para si e para a sua família. Todos os dias, invariavelmente sob temperaturas superiores a 40 graus e por caminhos duros. Compreende-se que é uma vida dedicada a uma tarefa árdua quanto fundamental para a sobrevivência mas com isso perde quase a totalidade da sua infância. Mas é o que é!
Por conseguinte, todos os apelos da UNICEF, mesmo que recorrentes e insistentes, fazem sentido e justificam-se, mesmo que os donativos sejam simbólicos. Certamente que há muitos que bem poderiam ajudar de forma bem significativa e sem qualquer dificuldade, e muitos ajudarão concerteza, mas a larga maioria passa ao largo destas questões humanitárias porque as Ayshas deste mundo vivem lá ao longe e não lhes vemos os olhares tristes, os lábios sequiosos em rostos sem sorrisos e vidas sem infância, quase sem presente e com futuro muito incerto. Temos que chegue e sobre para as nossas vaidades e coisinhas supérfluas e nem vale a pena aqui fazer a lista.
Por tudo isto, voltei a contribuir para a UNICEF, tendo já realizado a transferência bancária, na expectativa de que todos os donativos, grandes ou pequenos, serão bem aplicados por esta credível entidade e farão diferenças para muitas crianças nessas regiões de pobreza e dificuldades extremas. Seja no contexto da saúde, como no da educação como no simples direito à água. E dizem as estimativas que serão mais de 2 mil milhões de pessoas sem acesso a água potável, em que 600 milhões serão crianças.