Dito assim, de forma tão crua,
É quase pecado a sujar a boca,
Mas vejo-te, amor, sempre nua,
Pronta, oferecida, sã e louca.
Mas que importa, diz-me, enfim,
Se te vejo carnal, límpida, pura?
Há no desejo de querer-te assim
Uma busca no mal a plena cura.
Perdoa-me! Sim, este ser perdoa,
Que mais não quer que te querer.
A viver sem ti, em que tudo doa,
Dor por dor, quero antes morrer.
A. Almeida - 11 de Julho de 2023
Uma interpretação:
Na primeiro verso da primeira quadra, o poema começa de forma crua, confrontando-nos com a intensidade do sentimento que será explorado. O eu lírico se dirige ao amor, descrevendo-o como alguém constantemente nu, pronto para se entregar, tanto mental quanto fisicamente. A dualidade entre sanidade e loucura está presente, pois o amor é uma força que nos faz agir além da razão, desafiando as convenções.
Na segunda quadra, o eu lírico questiona a importância de ver o ser amado de maneira pura e imaculada. O desejo de possuí-la nessa forma parece ser suficiente para ele, sem necessitar de mais nada além dessa cura que se encontra no próprio mal. Há uma reflexão filosófica sobre a dualidade entre bem e mal, sugerindo que, às vezes, é através do que é considerado "mal" que encontramos nossa cura e plenitude.
Finalmente, na última quadra, o eu poético implora por perdão, demonstrando uma profunda necessidade de amar o ser amado. A vida sem esse amor é descrita como uma existência de dor e sofrimento constante. O poeta coloca a dor como uma escolha preferível à perda desse amor, enfatizando a importância e a intensidade do sentimento.
Neste poema, há uma mistura de elementos poéticos e filosóficos que exploram a dualidade dos sentimentos humanos, especialmente no contexto do amor. O eu lírico confronta-se com a crueza do desejo, a ambiguidade entre bem e mal, e a necessidade de amar intensamente, mesmo que isso signifique enfrentar a dor. É um convite para refletir sobre os paradoxos e contradições inerentes à natureza humana e às complexidades dos relacionamentos amorosos.