10 de julho de 2023

Desgraça sem graça


Andamos nesta desgraça sem graça, 

Numa tensa e constante correria,

Como se a vida que por nós passa

Seja coisa de viver num justo dia.


Viver tão somente numa doce calma,

Renegar a pressa, a ânsia que alastra,

Saber que tão pouco interessa à alma,

É, afinal, tudo quanto ao homem basta.


A. Almeida - 10-07-2023


Uma interpretação:

Este curto poema em duas quadras com rimas cruzadas,  procura retratar a condição humana num tom algo desesperançado. O poeta expressa a sensação de viver em um estado de desgraça sem graça, o que sugere uma vida monótona e sem sentido. A imagem da "tensa e constante correria" destaca a agitação e o ritmo acelerado em que as pessoas vivem, como se estivessem apenas passando pela vida sem verdadeiramente vivê-la.

A expressão "coisa de viver num justo dia" parece transmitir uma ironia amarga. O poeta sugere que a vida se tornou algo tão vazio e superficial que se limita a um dia só, ou seja, um dia comum e ordinário. Essa frase revela uma crítica à falta de intensidade e significado nas experiências e vivências do dia-a-dia.

Na segunda quadra, o poema procura apresenta um contraste ou um remate em relação ao anterior. O eu poético defende viver numa doce calma, renegando a pressa e a ansiedade que se espalham. Essa postura sugere a busca por uma existência mais serena e tranquila.

O poeta destaca que a alma humana pouco se importa com a agitação e a correria do mundo. Ao afirmar que "tão pouco interessa à alma", o eu lírico sugere que a essência mais profunda do ser humano não deve ser afectada por questões externas e superficiais, mas antes plenas de essência da vida.

O verso último, "É, afinal, tudo quanto ao homem basta",  transmite a ideia de que o que realmente importa e preenche o homem está contido nessa doce calma e na renúncia à pressa. A busca pela simplicidade e pela paz interior é retratada como suficiente para satisfazer as necessidades humanas.

Em resumo, esses dois trechos poéticos apresentam uma análise crítica da condição humana e da sua postura face à vida. Enquanto o primeiro revela uma realidade desesperançada e superficial, o segundo sugere uma alternativa de vida mais calma e significativa, valorizando a serenidade e a simplicidade.