Diz quem segue e anda atento a estas coisas, e o cartaz não mente, que a festa grande da freguesia de Romariz, nossa vizinha, vai ser de arromba e de estourar. Ainda por cima, e para mal dos nossos pecados, coincide com a nossa modesta Festa do Viso, que, como se sabe e pelos motivos igualmente conhecidos, foi antecipada uma semana relativamente ao que era a velhinha tradição.
E porque parece que hoje em dia o êxito e importância das festas são medidas pela popularidade de quem vem animar musicalmente a coisa, teremos a seguinte ementa:
27 de Julho:
Banda de tributo aos "Scorpions".
28 de Julho: Quim Barreiros, o mestre da culinária e de mamar nas tetas da cabritinha.
29 de Julho: José Malhoa, o mestre dos clichés dos bailaricos a envolvar gajas boas e padres e sacristães a darem uma ajuda a apertar com elas.
30 de Julho: Mónica Sintra, que depois de constatar que afinal havia outra, continua a cantar que não é uma qualquer. Acredito, pelo que o cachet certamente será a condizer.
31 de Julho: Banda Santamaria, que já actuaram em Guisande em 2009. Apesar da partida inesperada de Tony Lemos, que era a alma criativa da banda, continua com os ritmos tecnos e a voz da já pouco fresca e quarentona Filipa Lemos. Mas parece que ainda continuam a ter assistências devotas e enchem plateias.
Ainda a excelente Banda de Música de S. João da Madeira e uma tal de Brasil A 1000, e pelos vários dias, uma catrefada de DJ´s, que parece que agora pegaram moda na arte de meter discos. Ah, e o fogo de artifício, não podia faltar para despedida.
A Nosse Senhora dos Remédios, figura maior da festa, aparece com a imagem discreta, ali envolvida pelo cacho de artistas, à sombra do chapéu e bigode farfalhudo do Quim. Merecia um outro destaque e plano, mas os cartazes modernos desvalorizam o que é de valorizar. Já agora, faltam ali os horários pelo que quem quiser ir à missa e à procissão solenes, e esta certamente meterá cavalos, é consultar outras fontes que não o cartaz. Cartaz com horários? Coisa antiga...
Perante isto, Guisande fugiu da concorrência costumeira da Festa de Fiães mas meteu-se na boca do lobo da festa maior de Romariz. O nosso cartaz musical, bem mais modesto e comedido, reconheça-se, vai ter que remediar e valer-se de outros atributos e têmo-los bons e fortes..
Aparte estas coisas do entretenimento musical, que a meu ver são a quota menos importante e valorativas das nossas festas de aldeia, porque há valores identitários bem mais distintos, seja na nossa festa seja na de Romariz, de Pigeiros ou de qualquer outra, apetece perguntar, onde é que se consegue tanto dinheiro para pagar a todos estes artistas? Tantas vezes as terras com necessidades bem mais substanciais ao dia a dia, bem como a carecerem de conservação dos espaços e património comum, estradas e caminhos em mau estado, e no entanto, em três ou quatro dias, pumba! estoura-se uma porrada de dinheiro em foguetes e cantorias. Somos, no geral, uns exagerados e as festas são disso um reflexo. Mas são eventos populares e que rendem popularidades e juntam-se aos exageros as câmaras municipais e juntas de freguesia. Um por todos e todos por um, como no Dartacão.
Sempre se disse que quem quer festa sua-lhe a testa, mas a avaliar pelos cartazes das festas aqui à volta da nossa, parece que é fácil angariar 50 mil euros e anda tudo a nadar em dinheiro. Estamos, pelos vistos, novamente em tempo de vacas gordas. Ainda bem! Afinal temos que ajudar esta gente dos palcos, que tanto se queixaram de fome e miséria no jejum da Covid, e que, mesmo que com qualidade duvidosa, nos dão música e mostram-nos bailarinas com todas as curvas do caminho. Ajudar quem precisa!
Vivam as festas, a nossa e as dos outros!