Para lá das portas onde habita o segredo
Há labirintos intrincados, imaginários;
Teu corpo é prisão que me tem em degredo
Onde vou penando por pecados solitários;
Não sei quantos quartos tens fechados
E neles quantas camas já remexidas,
Com lençóis húmidos de corpos suados
Onde se encontraram ou perderam vidas.
Mas há em mim esta constante tentação
De te ter toda aberta, acolhedora, pura,
Possuir a chave mestra da fechadura,
Aceder à profundidade do teu coração.
Não sei que segredos guardas, zelosa,
Como a mais bela pérola a rude ostra,
Como espinhos a envolver a suave rosa,
Como seguro jogador a fazer a aposta.
Não sei que segredos tens escondidos
Nem em que gavetas e cofres encerrados,
Tão pouco se os tens, porque já perdidos,
Ou se apenas, sem pena, desencontrados.
A.Almeida - 31072023