Terminaram as ditas pré-jornadas da Jornada Mundial da Juventude e os muitos jovens peregrinos internacionais que um pouco por todo o lado estiveram perto das nossas comunidades, nomeadamente integradas em famílias de acolhimento, foram ou estão já a caminho para Lisboa onde decorrerá o evento maior durante esta primeira semana de Agosto.
Como nota prévia, sem rodeios, pela minha parte, enquanto membro de família de acolhimento e enquanto comunidade, a experiência foi muito positva e enriquecedora.
Importará agora, talvez, fazer um pequeno resumo ou um balanço dos dias que por cá passaram, concretamente na nossa comunidade inter-paroquial de Guisande, Pigeiros e Caldas de S. Jorge. Assim, e tendo em conta apenas a minha experiência como parte de uma família de acolhimento, parece-me, e ressalvo que é somente a minha opinião em face da experiência pessoal e familiar, que o programa delineado para a semana desta pré-jornada poderia ter contemplado alguns outros aspectos que dessem ao relacionamento e partilha dos peregrinos acolhidos com os acolhedores um maior espaço e tempo e deles uma dinâmica mais pessoal.
Conforme foi programado e executado, parece-me que os momentos exclusivamente familiares, senão poucos, foram pelo menos curtos e basicamente circunstanciais. Os jantares (no nosso caso apenas por 3 vezes) foram sempre condicionados pelo horário, porque entre o momento de recolher os jovens depois dos eventos do dia, dar-hes tempo para tomarem banho, comerem e de novo levá-los aos locais dos eventos da noite, tiveram manifestamente pouco tempo. Foi uma correria constante entre refeições e eventos. Ainda, no grupo Whatsapp criado para o efeito, alguma descoordenação na informação de horários, a várias vozes e com informações por vezes contraditórias ou confusas. Chegou mesmo a anunciar-se que a missa de Domingo na capela do Viso seria transmitida pelo Porto Canal. Obviamente que um inocente lapso já que a transmissão se referia à celebração da missa na cidade do Porto, no Sábado. Também quanto a transportes, o que foi informado que inicialmente era uma desobrigação, para além de facilitar a básica deslocação para os pontos de recolha em cada paróquia, acabu por se tornar quase um imperativo e não fosse assim não sei como seria para muitos dos peregrinos ir ou regressar dos eventos.
Sendo certo que alguns momentos programados para as noites eram abertos às famílias e comunidade, em rigor e pela dinâmica própria de diferentes gerações e ainda porque alguns dos acolhedores (como nós) estavam em período de trabalho, com horários a cumprir, não podemos dizer que o contexto tenha sido o ideal a essa interactividade. Por conseguinte, apesar da experiência globalmente positiva e de nossa parte tudo fazermos para que houvesse uma plena partilha com as peregrinas acolhidas, em rigor, analisadas as coisas, sobretudo pela limitação de tempo e circunstâncias da programação, fomos, em certa medida, famílias de alojamento e não tanto de acolhimento. Com quem na mesma situação de família de acolhimento fui falando, a percepção era semelhante.
Creio que uma forma que poderia contribuir para esse melhoramento das condições, seria que os momentos após os jantares ficassem exclusivamente reservados por conta das famílias que assim poderiam levar os peregrinos a outros pontos e experiências. Mas não foi assim! Parece-me que por parte dos programadores, mesmo que com a melhor das intenções, houve uma preocupação em dar divertimento aos jovens, com boas doses de concertos, música e dança, como se no fundo e em grande medida as suas necessidades se resumissem a isso. Parece-me que no contexto de uma jornada com cariz ecuménico, é certo, mas também e sobretudo católico, os momentos de diversão poderiam ser um bocadinho menos expressivos a favor de outros que privilegiassem o tal espaço, tempo e contacto alargado com as famílias de acolhimento, porque estas foram peças fundamentais não só logísticamente como nas vertentes social e cultural da dinâmica da semana.
Mas, isto sou eu a falar com os meus botões e, passe esta impressão e sensação de constante correria, conforme disse na nota prévia não deixo de considerar a experiência globalmente muito positiva e merecedora de enaltecimento ao empenho e dedicação de muita gente nas diferentes comunidades, como o pároco, os grupos de jovens e não só, que trabalharam e coordenaram toda esta dinâmica.
A todos, nomeadamente aos da nossa paróquia, bem hajam!.
Quanto aos jovens estrangeiros que passaram por cá esta semana, um desejo de que a mesma tenha sido positiva e enriquecedora e que levem de Portugal e dos portugueses uma imagem positiva da sua forma de estar e acolher. Nós sabemos, queremos e gostamos de acolher, não a qualquer preço, mas de gente com vontade de também dar contributos e desde logo o respeito e esforço de integração na cultura e identidade do país que acolhe. Quem cá chega em contextos de mero mercantilismo, oportunismo de um certo laxismo ou facilitismo das entidades públicas e do estado social, impondo e fazendo querer prevalecer os seus hábitos e culturas, não são bem vindos, porque nada acrescentam.
Como cantava o Zeca Afonso, quem vier por bem, traga outro amigo também!