José Saramago, 1922-2010, escreveu que “dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos"
Na realidade todos nós tempos um nome, mais ou menos vulgar, mais ou menos raro e estapafúrdio, mas temos, por imperativos culturais, sociais mas sobretudo administrativos, mesmo que Teixeira de Pascoaes, 1877–1952, tenha escrito que "o nome desfigura as coisas".
Por outro lado, Miguel de Unamuno, 1864–1936, dizia que "o nome é em certo sentido a própria coisa; dar nome às coisas é conhecê-las e apropriar-se delas; a denominação é o acto da posse espiritual".
Hà nestas três fases e pensamentos subjacentes uma estranha contradição e complementaridade. Mas em ambos os casos é um tema interessante e com essência filosófica.
Da frase de Saramago, escrita no seu "Ensaio sobre a cegueira", leva-nos a navegar num mar de várias considerações e uma profunda reflexão filosófica sobre a essência do ser humano e sua identidade intrínseca.
- A natureza do ser: A frase sugere que existe uma essência, uma característica fundamental dentro de cada indivíduo que é única e que define quem somos verdadeiramente. Essa essência pode ser entendida como a parte mais profunda e autêntica de nossa existência, algo que transcende nossas experiências superficiais e a própria linguagem que usamos para nos descrever.
- O inominável: Ao dizer que essa coisa dentro de nós não tem nome, pode-se inferir que essa essência é tão profunda e singular que não pode ser adequadamente expressa por palavras ou conceitos comuns. É algo que escapa à linguagem e que vai além das categorias usuais em que classificamos as nossas identidades.
- Auto-conhecimento: A frase também nos convida a questionar e a explorar quem realmente somos. O auto-conhecimento é um processo profundo de introspecção e reflexão sobre as nossas motivações, desejos, medos e valores. Procurar compreender essa "coisa" sem nome dentro de nós é uma jornada em busca de entender a nossa verdadeira essência e autenticidade.
- Identidade em constante mudança: Ao afirmar que "somos" essa coisa, a frase sugere que a identidade é fluida e está em constante evolução. Somos seres em processo, e a nossa essência pode ser moldada pelas nossas experiências, relacionamentos e escolhas ao longo da vida.
- Ligação com o universo: Essa "coisa" sem nome dentro de nós pode ser vista também como uma conexão com algo maior, com a totalidade do universo ou com uma dimensão espiritual, com Deus. É uma maneira de reflectir sobre nossa relação com o mundo ao nosso redor e sobre o nosso papel no cosmos.
Em última análise, essa reflexão filosófica convida.nos a mergulhar em questões existenciais profundas e a procurar um maior entendimento de nossa própria natureza e do significado da vida. É um convite para explorar os mistérios do ser humano e de sua conexão com o universo que o cerca. Cada indivíduo pode encontrar significados e interpretações pessoais nessa afirmação, o que torna a reflexão ainda mais rica e diversa.
A.Almeida - 23062022