Chegavas num dia de sol morno,
De flores estivais ainda perfumadas.
Ainda a sentir-se o aroma de frutos maduros
Já com as andorinhas olharem a sul.
Com um molho de rosas tardias, todas brancas,
Um sorriso com a largura de um raio de sol,
Numa ânsia quase infantil, desmesurada,
Fui ao ponto da tua partida e chegada,
E esperei minutos que foram horas.
Na chegada, chegaram muitos, partiram outros,
Todos num vai-e-vem pesado, apressado,
Mas tu não chegaste, talvez porque nem partiste.
Ainda esperei que a multidão se dissipasse
E como nos filmes surgirias na nuvem de vapor,
Mas não! Não estavas lá, porque não vieste.
O céu já não era azul límpido, mas cinzento;
Não sei se lágrimas, mas chovia no meu rosto;
As andorinhas já tinham partido sem adeus;
A fruta caía de podre numa mortalha de folhas frias;
As rosas, já murchas, tinham a palidez do desencanto;
Serão assim as esperas por gente que não chega,
Um desalento cheio do vazio da solidão?
Pior a espera por alguém que não chega,
Que a dor do adeus por quem de partida.
Na partida diria: – Adeus, amor!
Mas quando não se chega,
Há uma espera desesperada,
Um olá amor, que se não diz,
Um sorriso que não se abre,
Um abraço que não se envolve,
Um coração frio que não arde,
Um beijo que não encontra calor
Numa boca sedenta de saudade.
AA-20092023