Há pelas nossas terras, sobretudo pelas pequenas aldeias, pessoas que pelas suas particularidades se tornaram de algum modo emblemáticas, castiças ou ditas típicas. Seja pelas características físicas e de idade, de linguagem, de profissão ou outras, certo é que adquiriram esse estatuto perante a comunidade, mesmo que em rigor nada fizessem por isso.
Ora nos tempos que correm, tão ligados à importância da imagem e do antes parecer que ser, temos a tendência de colocar essas pessoas num certo pedestal, que mais não seja a modos de exibição, e neste aspecto as redes sociais dão uma grande ajuda, senão toda.
Apesar disso, e dessas pessoas só por si representarem esse estatuto perante os seus concidadãos, nem sempre correspondem a uma valorização decorrente de um ponto de vista de qualidade de cidadania e intervenção cívica no próprio meio onde habitam e têm o seu espaço.
Não faltam, pois, por aí, figuras bem típicas e castiças, que se expostas nas redes sociais colhem uma catrefada de gostos, mas que em rigor nunca nada fizeram de concreto como acto de cidadania ou de participação em todos os momentos comunitários. Nunca fizeram parte dos movimentos políticos, de uma junta ou assembleia de freguesia; nunca integraram uma comissão de festas de arraial ou de igreja; jamais participaram num passeio ou num evento comunitário; nunca estiveram em grupos ligados à paróquia ou ao apoio social; também passaram ao lado das responsabilidades numa associação cultural ou clube desportivo; mesmo quando solicitados em peditórios e campanhas de angariação de verbas para os diversos fins da comunidade, não aparecem à porta ou se sim com as mãos vazias e ainda a soltar cães ou a pregar sermões.
Apesar de tudo, mesmo com todo este estatuto de nada fazerem nem mexerem uma palha a favor da comunidade onde se inserem, continuam a ser tidos como figuras importantes, singulares. Pelo contrário, aqueles que em todos os momentos foram participando activamente, contribuindo e colaborando na vida comunitária, só porque não tão típicos ou castiços, porventura mais discretos nas suas acções, acabam tantas vezes esquecidos e pouco ou nada valorizados e até mesmo desconsiderados. Esta é uma situação que ocorre em muitas comunidades e mesmo aqui em Guisande temos exemplos concretos de ambas as situações, os típicos que nada fizeram e os que muito contribuiram mas desconsiderados.
Em resumo, devemos valorizar todos os nossos concidadãos, é certo, mas sempre na justa medida e dar mais apreço a quem de facto se destingue pelo que faz e não apenas pelo que parece ser, por mais típico que seja. Acima de tudo devemos, tanto quanto possível, ser justos já que nem sempre o somos e custa-nos a reconhecer os méritos de tantos só porque não são das nossas relações, do nosso clube, do nosso partido ou não vão connosco à bola.
Nesta como noutras situações, fica sempre bem "o seu a seu dono" ou mesmo "separar as águas".
[imagem: D´Évora com Amor]