Sob o sol escaldante a terra ressequida
Geme, ou mesmo grita de não sei que dor,
Numa sede aflita, em desencontro da vida,
Como uma semente que não brotará flor.
A paisagem pinta-se em tons de chama,
Sem tintas do suave céu e da erva verde;
Triste sina esta a de um homem que ama,
Com uma fonte nos olhos mas já sem sede.
Quisera eu ter a garganta ressequida,
Os olhos secos, em cegueira constante,
Para te beber e ver mais doce e pura,
Numa sôfrega bebedeira consentida,
Possuir-te no leito suave como amante,
Numa fome estrangulada pela fartura.
A. Almeida - 02092023