18 de outubro de 2023

As cores e o poeta


Tantas vezes é o poeta um pintor

Que só usa a paleta de cinzentos,

Ainda com as cores por descobrir.

Nas suas telas há angústia, há dor,

Como se todos os seus fundamentos

Assentem no vislumbre de nos ferir.


E, contudo, mais que tudo, há o céu

Há montes e vales, flores a pedir cor,

O sol a nascer, romper de luz  o breu

Da noite escura dos olhos do pintor.


Não quebrou, o poeta, a corrente, o elo

Que o liga à cor das coisas, do mundo,

Mas apenas pinta conforme o fantasia;

O azul, o vermelho, o verde e amarelo

Cores que tem no olhar mais profundo

Bem guardadas para só pintar a alegria.