Tantas vezes é o poeta um pintor
Que só usa a paleta de cinzentos,
Ainda com as cores por descobrir.
Nas suas telas há angústia, há dor,
Como se todos os seus fundamentos
Assentem no vislumbre de nos ferir.
E, contudo, mais que tudo, há o céu
Há montes e vales, flores a pedir cor,
O sol a nascer, romper de luz o breu
Da noite escura dos olhos do pintor.
Não quebrou, o poeta, a corrente, o elo
Que o liga à cor das coisas, do mundo,
Mas apenas pinta conforme o fantasia;
O azul, o vermelho, o verde e amarelo
Cores que tem no olhar mais profundo
Bem guardadas para só pintar a alegria.