Outros, mais letrados e imensamente mais talentosos que eu já o terão perguntado e dada a resposta à altura da sua capacidade analítica. Mas mesmo assim não me escuso a interrogar se por agora haverá namoros à moda antiga, dos genuínos, puros e inocentes, quando se namorava à janela, ou mesmo daqueles românticos, galanteadores, em que o desejo carnal e instintivo dos primeiros momentos era abafado com cortesias, paciência e sobretudo respeito pelo tempo como se a deixar amadurecer na justa medida um fruto cujo sabor pleno não seria mais que um travo amargoso ou ácido se colhido impacientemente antes do tempo?
Creio que não! Que já não há disso e se alguém dele quer vislumbres só por amostra ou aproximação num qualquer filme lamechas ou de época. Na vida real, só por lotaria num qualquer povoado ermo onde as modernices ainda não tenham deixado marcas.
Hoje tudo é rápido, instantâneo e fugaz. Os primeiros encontros são o sumário de todos os outros e raras são as excepções, por pouca vontade, falta de tusa ou timidez, que não acabam em relação carnal, seja na estreiteza enevoada de um automóvel estacionado num qualquer beco escuro ou sombrio ou mesmo num quarto manhoso de motel ou até mesmo na cama da casa de um ou outro, vazias por solidão ou por desocupação de ex parceiros.
As coisas estão neste ponto e perguntamos se é melhor assim, com toda esta frontalidade, sem rodeios inúteis que só adiam o desfecho ou se no antigamente é que as coisas se fazim bem, com calma e paciência até que o tempo fosse tempo?
Em rigor não sei responder ou se sim com meia dúzia de considerações que pouca utilidade terão para o caso. Mas do que se tem visto, os namoros actuais ou relações à experiência podem ser práticos, pragmáticos, objectivos, mas como também disse alguém conceituado sobre esta mesma reflexão, dessa pedreira não se molda a pedra angular da nossa sociedade. Mas mais digo, por esta forma de nos relacionarmos, feitas as contas não fazemos melhor que figura de alguns cães, de todas as raças e tamanhos de nariz colado ás traseiras, já não só da cadela ciosa, mas deles próprios. Tristes figuras armadas em fodilhões mas a seu tempo ocupados com questões de paternidade e de divisão de património. No fundo, antigamente pagava-se para se sossegar a pila mas dalí, para lá do risco de piolhos, uma sífilis ou gonorreia, nada mais comprometia.
Tempos modernos estes.