No jornal da manhã de hoje na RTP 1 - Bom dia Portugal, vi em rodapé uma qualquer notícia sobre José Rentes de Carvalho, mas foi tão rápida que para além do nome não cheguei a saber do que se tratava. Como não voltou a passar fiquei a pensar que falecera, o que não seria de espantar pois já conta com 93 anos.
Felizmente, descobriu-o logo depois, não foi esse o motivo - ainda pode esperar - mas sim o facto de lhe ter sido atribuído o prémio de Personalidade do Norte 2023 pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), sucedendo ao arquiteto Álvaro Siza Vieira, em 2021, e à pintora Graça Morais, em 2022.
O prémio é essencialmente simbólico e que lhe dá direito a uma peça escultórica da autoria de Cristina Massena, arquiteta da Escola do Porto, que foi produzida pelo Done Lab da Universidade do Minho e da BOSCH, em Guimarães, com recurso a tecnologia de manufatura aditiva avançada e será entregue ao escritor pelo presidente da CCDR-N, António Cunha, durante o Fórum Competitividade Regional e Pós 2030: o Norte na União Europeia, que decorre hoje na Fábrica de Santo Thyrso, contando com a presença da Comissária Europeia da Coesão e Reformas, Elisa Ferreira.
Apesar de tudo é mais um reconhecimento tardio deste fantástico escritor e mestre da língua portuguesa, que apesar da sua extensa e rica obra e da sua generosa idade é ainda um quase ilustre desconhecido na sua pátria. Por muitos motivos, mas também por parte da sua vida fazer dele também holandês onde se radicou, na cidade de Amestardão.
José Rentes de Carvalho é filho de pais transmontanos da aldeia de Estevais, em Mogadouro (distrito de Bragança), e neto de um avô sapateiro e de um avô guarda fiscal em Vila Nova de Gaia. Nasceu em 15 de Maio de 1930 em Vila Nova de Gaia. Frequentou o Liceu Alexandre Herculano, no Porto, e prosseguiu os estudos em Viana do Castelo e Vila Real. Foi na Faculdade de Letras e na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa que traçou o seu percurso académico, estudando Línguas Românicas e Direito.
Abandonou o o país por motivos políticos durante a ditadura do Estado Novo, vivendo primeiramente no Brasil, onde trabalhou como jornalista nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo e posteriormente em Nova Iorque e Paris. O escritor acabou por se radicar nos Países Baixos em 1956, concretamente em Amesterdão, trabalhando na embaixada brasileira. Licenciou-se na Universidade de Amesterdão. Entre 1964 e 1988 foi professor universitário de Literatura Portuguesa e desde então tem-se dedicado exclusivamente à escrita e à colaboração em jornais e revistas literárias.
A sua extensa obra, dedicada à ficção, ensaio, crónica e diário, tem sido publicada em Portugal e nos Países Baixos, sendo recebida com reconhecimento pela crítica e pelos leitores, tendo alguns títulos alcançado o estatuto de 'best-seller'. José Rentes de Carvalho divide o seu tempo entre Amesterdão, nos Países Baixos, e Estevais, em Mogadouro -- metade do ano em cada lugar.
Atualmente, os seus livros são publicados pela editora Quetzal.
Tal como acontece em relação ao seu país, que praticamente o desconhece, pessoalmente também o descobri tardiamente mas já adquiri alguns dos seus livros, sobretudo crónicas e diários. Tem excelentes romances de que conheço extractos, que ainda contarei poder vir a ler embora não seja o meu género preferido, mas a qualidade da sua escrita merecem esse exercício de leitura. Ainda ontem encomendei mais dois títulos.
Já agora, a propósito da recente vitória eleitoral de Wilders, conotado à extrema-direita na Holanda, o escritor, profundamnete conhecedor desse pais e da sua sociedade, de forma sintomática, escreveu no seu blog:
A vitória eleitoral de Wilders explicada aos pequeninos:
Um cidadão holandês que se inscreve para poder alugar uma casa num bairro social terá, no melhor dos casos, de esperar 12 (doze) anos antes que a sua vez chegue.
Aos refugiados é quase de imediato fornecido alojamento, mobilado e equipado, e uma subvenção que a eles e à família permite viver confortavelmente.