Estamos tão dependente dela, para ajudar a matar o pouco tempo que nos sobra do lufa-lufa do quotidiano, que não a dispensamos. A televisão tornou-se companheira e substituta de gente e em muitos lares é a única voz que se ouve na solidão de quem vive só, por opção ou por fatalidade.
Pessoalmente sou fraco consumidor de televisão. Apenas algum serviço noticioso, comentários e análise das actualidades, depois alguns documentários, alguma música clássica um ou outro episódio de uma qualquer série, sobretudo de comédia. Filmes, raramente e apenas os climaxes finais. O futebol nunca me prendeu, mas porque definitivamente sem paciência para essas chuvas no molhado, deixou, quase definitivamente, de fazer parte do cardápio e apenas um ou outro resumo da coisa já acabada só para me sentir informado o bastante.
Mas tantas vezes chego à conclusão que em rigor nem vejo televisão porque o mudar de canal (dizem que zapping) é constante na procura do que poderá ter interesse e naquelas duas centenas de canais, ou por aí, poucas vezes dou de caras com algo que me prenda a atenção e, pasme-se, por vezes paro nos canais chineses. E se encontro algo de interesse, tantas vezes constato de seguida que é algo que já se viu, sim, porque na nossa televisão as coisas repetem-se vezes sem conta como o "Sozinho em Casa" na proximidade do Natal.
Em todo o caso, e era aqui que queria chegar, por estas alturas em que está na mira o Natal, e que nas televisões começa bem cedo, com bombardeamento de anúncios de produtos de mercearia, relógios, perfumes, carros, chocolates, etc, etc. Creio que, passe o humor negro, nem em Gaza há um bombardeamento tão persistente. Por conseguinte imagino, sem que ponha em prática, como seria bom desligar as nossas televisões no dia 1 de Dezembro e só as voltar a ligar já perto do Carnaval. Uma espécie de blackout sanitário. Poderia custar nos primeiros dias, como qualquer desabituação, mas depois os benefícios seriam sentidos. Assim como uma espécie de desintoxicação.
Mas é esquecer, porque na realidade o que estou a dizer ou a imaginar, para a larga maioria das pessoas consumidoras, a coisa cheira a heresia. Então como havia de ser nas salas de espera de centros de saúde, hospitais, cafés, restaurantes, etc, etc? Como é que a juventude sem a Netflix e semelhantes? E de que maneira os adeptos fanáticos iriam passar o mês sem assistir a jogos do Porto e Benfica e às análises na CMTV com os broncos do Rudolfo Reis, Fernando Mendes e outros que tais? E os idosos, sozinhos em casa, sem ouvir as missas e aquelas coisas intermináveis nos domingos à tarde num desfile de cantores pimba e venda de chouriços? E com que depressão ficariam se inibidos de assitir ao "Preço Certo" e às piadolas do Fernando Mendes? E em que companhia fariam as domésticas o almoço, sem Gouchas, Cláudios, Sóninhas, Gabriéis e outros da mesma igualha, a falarem da vida deles próprios e de vidas alheias? Poderia lá ser! Era o fim do mundo!
Continuemos, pois, a estimar a nossa querida televisão até porque como nela nos dizem repetidamente, que este Natal vai ser mágico!